Protesto do Greenpeace e "efeito Marina" marcam cerimônia do pré-sal
A iminente candidatura presidencial da senadora Marina Silva (PV-AC) trouxe o debate do tema ambiental diretamente para o lançamento do marco regulatório da exploração de petróleo no pré-sal. Mesmo sem a presença da senadora, o tema virou personagem central na festa do governo, sendo abordado diretamente pelo presidente Lula e pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em seus discursos desta segunda (31/08).
Para ressaltar ainda mais essa discussão, ativistas do Greenpeace causaram grande mal-estar aos governistas, conseguindo driblar a segurança e invadir o palanque do evento. Conseguiram se colocar na frente de Lula com faixas de protesto contra a falta de preocupação com a poluição causada pelo petróleo. "Pré-sal e poluição: não dá pra falar de um sem falar do outro", diziam as faixas.
Lula e Dilma procuraram ignorar o protesto e incluir o tema ambiental em seus discursos, tentando transmitir a mensagem de preocupação com o assunto. Com isso, já procuram reduzir o impacto eleitoral que a candidatura de Marina, importante ativista ambiental e ex-ministra do Meio Ambiente, possa vir a ter.
"O fato é que o pré-sal nos abrirá as portas deste futuro se soubermos transformar essa imensa riqueza mineral, esta imensa riqueza natural em riqueza humana, social e ambiental", afirmou Dilma. A ministra lembrou ainda que os recursos que poderão ser gerados com a exploração da camada do pré-sal significarão "a preservação do meio ambiente".
Lula também entrou no assunto. "O pré-sal é um passaporte para o futuro. Sua principal destinação deve ser a educação das novas gerações, a cultura, o meio ambiente, o combate à pobreza e uma aposta no conhecimento científico e tecnológico, por meio da inovação. Vamos investir seus recursos naquilo que temos de mais precioso e promissor: nossos filhos, nossos netos, nosso futuro."
Para o Greenpeace, o protesto foi um alerta contra os problemas ambientais que podem ser provocados pela exploração do pré-sal. Em texto postado ontem à tarde no blog do Greenpeace, o protesto foi abordado diretamente e o governo foi tratado de forma crítica. "O meio ambiente não foi convidado para a cerimônia do marco regulatório do pré-sal, mas o Greenpeace fez questão de ir à festa. Muito tem se discutido sobre o pré-sal, mas até agora o presidente Lula não disse nada sobre seus impactos ambientais. Queremos ver esse assunto na pauta do governo", diz o texto.
Palanque
Diante de uma plateia de políticos e técnicos das áreas de energia e infraestrutura, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ensaiou o discurso de candidata à Presidência. Pegou um tema eminentemente técnico, como a exploração do pré-sal, e não perdeu a chance de anunciar os possíveis ganhos diretos para a população. Acabou ganhando sorrisos de aprovação do presidente Lula, sentado ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), possíveis parceiros de Dilma na campanha presidencial.
Dilma foi diretamente a esse ponto, atendendo à orientação de Lula e de dirigentes petistas. Eles avaliam que o pré-sal pode ter grande potencial eleitoral na campanha, se for bem explicado à população. Mas também acham que pode se tornar um fator nulo se for abordado apenas de forma técnica.
"A exploração do pré-sal é um tema que interessa de perto a cada um de nós, homens e mulheres, deste fantástico País", disparou a ministra, de cara. "Os projetos que hoje apresentamos falam de um caminho mais rápido e seguro em direção ao futuro. Um futuro que já começou, acreditamos, com as conquistas obtidas no governo do presidente Lula. E que a partir de agora têm uma oportunidade única de serem ampliadas e aceleradas com o pré-sal." Em seguida, ela traduziu o projeto para a linguagem de palanque. "Isso significa mais tecnologia, desenvolvimento humano, empregos."
(Por Marcelo de Moraes, com colaboração de Tânia Monteiro, O Estado de S. Paulo, 01/09/2009)