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2009-09-01

O historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, pelos idos de 1995, em uma matéria da mal afamada revista Veja sobre seu livro “Fronda dos Mazombos”, obra na qual os mundos mercantil e agrário do século XVIII, no estado de Pernambuco, convulsionam-se e se entrechocam em uma das primeiras revoltas nativistas do Brasil, a “Guerra dos Mascates”, como dois sistemas produtivos a mercê de um reboque da coroa portuguesa - como seriam de “queimar barcos” e “fechar portos” as revoltas nativistas dos séculos XVIII e XIX e como calharia bem os escravos deixarem de colher a cana para os engenhos dos escravocratas -, botava uma pá de cal no mito histórico do quilombo de Zumbi dos Palmares, de que fora melhor para o país a sua destruição e o contrário do feito “heróico” de Domingos Jorge Velho para as gerações futuras seriam os dialetos dos africanos se digladiando como parentes que mal entram na casa dos outros e já vão brigando por mexericos envelhecidos.

Certas declarações, como a do Evaldo Cabral de Mello, poderiam ser esquecidas sofregamente porque só revelariam o quanto uma leitura histórica, mesmo uma leitura de peso como a dele, podem escorregar e ser escorregadias em suas tentativas de enquadramento de um fato histórico como um ato benéfico para a sociedade brasileira e como um ato da qual ela se beneficia até hoje.

As bases sócio-econômicas - espelho dos projetos da sociedade brasileira dos séculos XVIII e XIX – flexionavam a mineração, o café e o açúcar no espaço geográfico da Mata Atlântica, só que as medidas do derrubar da floresta, do minerar os rios e do cultivar a terra agregavam os ganhos de primeira hora como justos pelo afinco na empreitada e caso houvesse prejuízos o desplante recaia sobre os escravos, o clima e a terra.

Quer parecer, nesse caso como em outros mais recentes, que a mera anuência ou a mera contestação a um fato histórico de relevância invariável - o que está feito, está feito - num meio de comunicação de massa enseja um novo precipício para a continuidade histórica: “evitamos a queda, que bom, ou temos que evitar a queda, como fazer?”.

Os meios de comunicação de massa objetivam o estrangulamento de qualquer dissonância nos espaços públicos e isso inclui espaços históricos. O encontro entre esses dois espaços se caracteriza pela tensão já que por mais invariável que seja o fato histórico ele pode ser interpretado e reinterpretado inúmeras e tantas vezes, imperdíveis e imprescindíveis, e isso acontece na dimensão do público, onde a igualdade se realiza na diferença.

A região do Baixo Parnaíba maranhense, por todas as diferenças sociais, econômicas, ambientais e políticas que carrega historicamente consigo, pretende um projeto mais igualitário economicamente e mais inteirado na sociobidiversidade do que os projetos “sustentáveis” que derrubam e carbonizam as matas nativas.

Nesse projeto mais igualitário e mais sociobidiverso, as comunidades tradicionais de Chapadinha, Urbano Santos, Santa Quitéria, Mata Roma, Anapurus, Buriti de Inácia Vaz, São Bernardo, Milagres do Maranhão, Magalhães de Almeida, São Benedito Rio Preto e Bela Água advertem que o espaço físico de cada uma dessas comunidades se estende muito mais do que alguns hectares doados por uma empresa ou demarcados pelo governo do estado ou pelo governo federal. Aos poucos as histórias desses espaços vêm a público por meios impressos ou meios digitais, pois a linguagem que predomina nos interiores é a linguagem oral que se apega muito a memória de um individuo. Um representante pouco visto, afinal ele envelheceu muito e pouco sai de casa.

Nos inúmeros embates das comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba e das organizações da sociedade civil em torno dos empreendimentos da Gerdau, entre 2006 e 2008, e da Suzano, entre 2008-2009, os representantes das empresas paralisavam as devidas respostas aos questionamentos sobre concentração fundiária e devolviam os questionamentos com pronunciamentos sobre geração de empregos, grau de investimentos, os ganhos superarão as perdas e etc.

O mais recente item dessa desconversa empresarial é que eles vão incentivar na cadeia de produção de bacuri. A dificuldade dessas empresas em parar as máquinas do seu discurso de “vimos aqui porque o estado oferece as melhores condições...” e sentar em pé de igualdade com as comunidades tradicionais está na raiz do conflito entre a Suzano e as comunidades tradicionais de Santa Quitéria e esse não é um conflito de ainda agora.

A Suzano resolveu mudar suas práticas para pior. Seu projeto de reflorestamento com eucalipto para todo Maranhão beira os 400 mil hectares nas regiões do Baixo Parnaiba, Cocais e região Tocantina. Os consultores afagam os pequenos, médios e grandes proprietários, mas na vez dos quilombolas a empresa de consultoria descaracteriza o seu trajeto histórico como se eles fossem meros posseiros de uns míseros hectares de terra e que um projeto social qualquer cala suas vozes e suas consciências até quando a Suzano precisar de suas terras.

Como o projeto da Suzano inflama as pressões sociais e econômicas sobre as comunidades tradicionais, caberia ao Ministério Público Federal pedir informações a respeito.

(Por Mayron Régis, Fórum Carajás*, 31/08/2009)

* Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba


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