Os consumidores costumam esperar que as etiquetas nos artigos do Wal-Mart contenham preços baixos. No futuro, elas também poderão ter informações sobre a pegada de carbono dos produtos, a quantidade de água usada para fabricá-los e a poluição atmosférica deixada em seu rastro.
Como maior rede de varejo do mundo, o Wal-Mart está em uma missão para determinar o impacto social e ambiental de todos os produtos em suas prateleiras. E, por isso, recrutou fornecedores e grupos ambientalistas para criar um sistema de indexação eletrônica. A ideia é elaborar um sistema de classificação universal que dê nota aos produtos com base em como eles são ambiental e socialmente sustentáveis ao longo de suas vidas. Seria o equivalente verde dos rótulos nutricionais.
Em vez de um varejista ou um fornecedor de produto se concentrar apenas em algumas metas de sustentabilidade —menores emissões, conservação da água ou redução de dejetos—, o índice os ajudaria a ter uma visão mais ampla da sustentabilidade.
Esta camiseta veio de uma colheita de algodão que foi borrifada com pesticida? Estas fraldas têm embalagem em excesso?
O objetivo do Wal-Mart é que, com o tempo, outros varejistas adotem esse sistema, que será criado nos próximos cinco anos. “Temos de mudar nosso modo de fabricar e vender produtos”, disse Michael T. Duke, presidente e executivo-chefe do Wal-Mart. “Precisamos tornar o consumo mais inteligente e sustentável.”
A única coisa menos provável que uma reunião do Wal-Mart que parece sonhada por ambientalistas progressistas talvez seja que acadêmicos e grupos ambientalistas digam que o Wal-Mart é a única entidade capaz de tornar o “consumo sustentável” uma realidade no comércio. “Ninguém mais poderia inventar isso”, disse Michelle Harvey, do Fundo de Defesa Ambiental, um dos grupos envolvidos na criação do índice.
A questão, é claro, é se até o Wal-Mart conseguirá fazer isso acontecer. “Acho que vai dar muito trabalho para muita gente”, disse Jon Johnson, professor da faculdade de economia Sam M. Walton da Universidade do Arkansas, que a empresa convidou para ajudar a criar o índice. “Mas evidentemente estamos otimistas quanto às perspectivas.”
O mero tamanho do Wal-Mart há muito permite que ele influencie outras empresas quando adota novas maneiras de fazer negócios. Por exemplo, Len Sauers, vice-presidente de sustentabilidade global da Procter & Gamble, lembra que, alguns anos atrás, quando sua empresa e algumas outras começaram a vender um sabão concentrado para roupas que usa 50% menos água —e permite o uso de um recipiente menor, com menos plástico—, essa versão demorou para pegar.
Até que, em 2007, o Wal-Mart decidiu que só venderia os detergentes concentrados. “Por causa da liderança do Wal-Mart nessa área, eles puderam definir um padrão para toda a indústria”, disse Sauers.
O Wal-Mart pretende começar a pedir a seus mais de 100 mil fornecedores de todo o mundo que respondam a 15 perguntas simples sobre as práticas sustentáveis de suas empresas. Os maiores fornecedores dos EUA terão de responder até outubro. Os prazos fora dos EUA ainda não foram definidos. O Wal-Mart disse que os fornecedores que decidirem não participar não serão penalizados, mas advertidos, “de que provavelmente serão menos relevantes para nós”.
(The New York Times / Folha de S. Paulo, 31/08/2009)