A imprensa cobriu com intensidade a filiação da senadora Marina Silva ao Partido Verde. E já deixa sinais de como pretende apresentar a ex-ministra do Meio Ambiente aos leitores e eleitores: tanto nos jornais como nas revistas publicadas no fim de semana, ela aparece como uma coadjuvante na disputa eleitoral, capaz de tirar votos principalmente da provável candidata da aliança governista, a ministra Dilma Rousseff.
Claramente, a imprensa quer mostrar Marina Silva como a senadora honesta, defensora da floresta e dos animais – a "Marina imaculada", como a apresenta a revista Veja na entrevista das páginas amarelas. Mas a senadora deixa claro, na própria entrevista, que não é apenas a portadora de "uma visão simplista, messiânica até", das coisas da política, como afirma Veja.
Marina Silva tem muitas outras qualificações além de sua experiência como militante dos "empates" comandados pelo líder seringueiro Chico Mendes no Acre.
Marcada pela imprensa
Em 2001, quando foi convidada, com outras personalidades da vida pública brasileira, para um seminário na Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi aplaudida de pé por alunos e professores após apresentar suas ideias. Tem muitas propostas sobre desenvolvimento sustentável, o que a colocou na contramão da ministra Dilma Rousseff – apresentada como a "mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento" – e acabou por afastá-la do governo e do Partido dos Trabalhadores, mas já está claro que terá de criar uma estratégia inovadora e extremamente eficaz para escapar do espaço limitado em que a imprensa tenta enquadrá-la.
Quando se trata de lidar com o chamado sistema da mídia, que projeta massivamente na opinião pública uma imagem preconcebida, não basta ser "imaculadamente honesta", como insiste Veja.
Se, em algum momento da campanha, sua candidatura vier a incomodar os interesses que claramente se misturam entre a imprensa e determinados partidos políticos, essa imagem pode muito facilmente ser desmanchada com a amplificação de pequenos erros na periferia de seu grupo de apoio e com a transformação de eventuais deslizes em grandes escândalos.
O partido pelo qual deverá ser candidata tem vulnerabilidades de monte para serem exploradas por seus adversários. E desde já ela sai marcada pela imprensa como candidata a santa, não a presidente.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 31/08/2009)