Produção diária no 1º bloco em teste é a metade da esperada pela Petrobras. Testes foram suspensos por problema em equipamento no fundo do mar; Petrobras afirma que o objetivo é conhecer melhor as reservas
Anunciado como a "porta do futuro brasileiro", o petróleo do pré-sal será motivo de festa nacionalista nesta segunda (31/08) em Brasília, mas os testes no campo de Tupi mostram que ainda não estão totalmente superados os desafios tecnológicos para explorar a nova riqueza. A produção no bloco de Tupi, na camada pré-sal, ficou abaixo dos 15 mil barris de petróleo que a Petrobras esperava extrair por dia durante o teste de longa duração iniciado em 1º de maio e interrompido em 6 de julho por problemas técnicos.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), a produção do campo Tupi em maio chegou a 23.883 barris de óleo, o que dá uma média de 796 barris de petróleo extraídos por dia. Já em junho, a produção mensal atingiu 413.819 barris, ou 13.794 diários. Na média, a produção em Tupi nos dois meses ficou em cerca de 7.300 barris. A expectativa é que, no auge da produção, em 2020, a produção diária de petróleo apenas no bloco de Tupi chegue a 1 milhão de barris. Isso equivale a metade do que a Petrobras produz hoje.
Segundo o geólogo Wagner Freire, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo, a irregularidade na produção é aceitável em uma fase como esta, de teste. Para ele, preocupante foi o fato de o teste ter sido interrompido por problemas no equipamento que fica no fundo do mar. "A Petrobras está acostumada à profundidade de 2.000 metros, que é onde fica esse equipamento. Não deveria ter ocorrido uma corrosão. Um projeto como esse requer um controle de qualidade muito apurado", disse.
Para o consultor em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a produção de Tupi abaixo do esperado evidencia os riscos de explorar petróleo no pré-sal, que o governo considera baixo. "É mais uma amostra de que o governo e a Petrobras têm muito pouco conhecimento do que é o pré-sal. A cada dia, a tese do risco zero vai mais para o buraco."
Outros blocos
A extração do primeiro pré-sal de Tupi foi marcada por uma cerimônia no Rio com a presença do presidente Lula. Durante a cerimônia, um pequeno barril transparente contendo petróleo passou pelas mãos de várias pessoas, entre funcionários, atletas e artistas, até chegar às mãos das autoridades que estavam no palco. A Petrobras estima as reservas no campo de Tupi entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris, praticamente a metade das atuais do país, de 14 bilhões de barris.
Além do ritmo irregular, prejudicou a produção de Tupi em maio a decisão de interromper a produção dias depois da festa. A empresa afirmou, em nota, ter aproveitado uma sonda que estava na região para aprofundar a perfuração no poço e pesquisar onde já jorrava petróleo, "durante grande parte do mês". A Petrobras disse que "reitera que a capacidade de produção em Tupi é superior a 15 mil barris por dia" e que "o objetivo do teste não é maximizar produção, mas analisar o comportamento dos reservatórios para se conhecer melhor o pré-sal".
Além de Tupi, já em teste, a Petrobras explora outros nove blocos no pré-sal. Dos dez, é sócia de petroleiras estrangeiras em nove. Como mostram os dados, o dia da festa do pré-sal não foi o dia em que a válvula foi inicialmente aberta em Tupi. O poço perfurado jorrou 169 mil barris de petróleo em abril. Segundo a Petrobras, o teste de longa duração deverá ser retomado em setembro.
(Por Valdo Cruz e Samantha Lima, Folha de S. Paulo, 31/08/2009)