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pontal do estaleiro projeto orla do guaíba movimento ambientalista gaúcho
2009-08-31

A vitória não é do Não. Quem venceu foi a Ana Lúcia, o João, o César, a Adriane, a Paola, a Lia, o Carlos, cidadãos de Porto Alegre que dedicaram parte do seu tempo para convencer outros moradores da cidade a comparecerem as urnas no domingão ensolarado do dia 23 de agosto. Eles fizeram o que estava ao seu alcance. Mandaram mensagens via web, fizeram textos, filmes, folhetos, cartazes, enfim usaram várias formas de comunicação baratas ou sem custo para sensibilizar os outros sobre o que significava votar pelo não. Também devem subir ao pódium, aqueles que foram num sábado tri frio e cinzento dar seu recado para o documentário elaborado pela global Casa de Cinema.

Uma amiga chegou distribuir panfletos feitos por ela em bares e universidades. Outra trabalhou de forma voluntária fazendo textos, assessoria para que os veículos de comunicação tivessem acesso ao que estava sendo feito para mobilizar a cidade. Pouco importa que apenas 2 % dos eleitores se dispuseram a sair de suas casas em um domingo ensolarado para marcar um dos quadradinhos. Afinal, quem faz as coisas acontecerem em um país, estado, município como o nosso? Os cidadãos pensantes, aqueles que se importam com os rumos do crescimento de uma cidade, que já foi a capital de melhor qualidade de vida do país.

Nesses tempos em que o interesse coletivo tem sido deixado de lado, onde todo mundo tem coisas mais importantes para fazer do que se preocupar em ter ou não ter prédios onde quer que seja, essa votação merece uma reflexão. Para alguns essa votação deveria ser ignorada pois a construção sairá de qualquer forma. Para outros, a ocupação da orla por moradias já é uma realidade, seja nas áreas invadidas da zona Sul ou pelas mansões da Vila Conceição.

A mobilização despertou participação de gente que nem sabe que a capital gaúcha já contou com a articulação de ambientalistas como José Lutzenberger, que abriu caminho para inúmeros defensores da natureza no mundo inteiro. Hoje, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), que foi fundada pelo Lutz e pelo Augusto Carneiro, pegou carona nas ações de representantes de associações de bairro. Os poucos ambientalistas que ainda resistem tem muitas outras atribuições que não tem tempo para se dedicar de corpo e alma aos problemas ambientais de Porto Alegre.

Ao contrário de outros Estados, onde as organizações não governamentais se profissionalizaram, os gaúchos sempre contaram com o voluntariado para realizar suas ações, talvez por uma questão cultural. As entidades locais não tem como pagar assessores jurídicos para acompanhar a pauta do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), muito menos o Consema, ou os trâmites entre os gabinetes da prefeitura e da Câmara de Vereadores.

É por essas e outras que devem ser parabenizados todos aqueles que utilizaram o seu precioso tempo para chamar a atenção de um assunto que é a pontinha de um iceberg, uma vez que muitos outros conglomerados de arranha-céus estão a caminho. Nada contra os edifícios em si, mas a sociedade precisa ser informada sobre impactos a médio e longo prazo do que eles representam neste ou naquele bairro. Se cada um dos votantes começar a ler a se interessar sobre as variáveis socioambientais e econômicas que interferem pela qualidade de vida onde vivem, o plebiscito vai ter feito muito mais por Porto Alegre do que a simples decisão de optar por um sim ou não.

(Por Silvia Marcuzzo, contribuição por e-mail ao Ambiente JÁ, 27/08/2009)


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