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2009-08-28

Tic Tac. Está chegando a hora para a Conferência sobre as mudanças climáticas a ser realizada em Copenhagen. Um movimento que tem como nome exatamente o nome do som que nos lembra que o tempo está passando. Foi criado para que possamos refletir, já que, a partir desta sexta (28/08), faltam 100 dias para a conferência começar. Uma das consultoras do movimento Tic Tac é a coordenadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn. Ela conversou, por telefone, com a IHU On-Line sobre a importância de marcarmos essa data para pensarmos nos acordos a serem realizados na cidade dinamarquesa. “Precisamos que a conferência de Copenhagen, e os líderes dos países, cheguem a um acordo extremamente agressivo em termos de redução de emissão de gases do efeito estufa”, disse ela.

Antropóloga e Socióloga, pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Lisa Gunn é especialista em Desenvolvimento Sustentável pela Carl Duisberg Gesselschaft, na Alemanha. Também é mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP.

Confira a entrevista.

IHUnisinos – Porque marcar os 100 dias para Copenhagen?
Lisa Gunn –
Justamente porque não temos tempo a perder. Precisamos que a conferência de Copenhagen e os líderes dos países cheguem a um acordo extremamente agressivo em termos de redução de emissão de gases do efeito estufa. Entre os cientistas, já há um consenso de que não podemos aumentar mais do que dois graus a temperatura do planeta, para que não tenhamos um desequilíbrio ecológico mais significativo. Para não aumentar esses graus, precisamos reduzir até 40% das emissões até 2020, ou seja, temos onze anos pra ter uma revolução nos padrões de produção e consumo que justamente garantam que iremos conseguir alcançar essa redução.

Por isso é importante marcarmos 100 dias para Copenhagen, pois, até lá, os países irão ter uma série de reuniões e encontros, e mesmo internamente os países estão fechando suas posições para Copenhagen. É uma forma de chamarmos a atenção dos líderes dos países, e também da sociedade, para a importância de termos um compromisso bastante forte em Copenhagen.

Qual o caminho que o Brasil deve traçar até a Conferência sobre as mudanças climáticas?
Gunn –
O Brasil tem um papel crucial nestas negociações internacionais de clima, justamente porque é um país emergente. Apesar de termos claro que a responsabilidade maior é dos países já desenvolvidos, pois eles ao longo do tempo já contribuíram para situação em que nos encontramos, os países emergentes e em desenvolvimento teriam uma responsabilidade mais diferenciada desses países ricos. Mas a questão é que, dado o tamanho do problema hoje, não dá para dizermos que os países emergentes não precisem ter metas, mesmo que voluntárias, de redução dos gases do efeito estufa. E o Brasil, como o país emergente líder nestas negociações, tende a assumir esse papel progressista de colocar um programa de redução de emissão dos gases do efeito estufa dentro do país.

Temos este desafio de conseguir ter uma coerência entre o que estamos pregando como negociação internacional e o que estamos fazendo internamente. O Brasil precisa fazer, também, a lição de casa, de ter políticas públicas que promovam a redução de emissão do gás do efeito estufa. Também deve haver na questão relacionada ao desmatamento, à agricultura e à destinação adequada de resíduos sólidos. Temos uma política nacional de resíduos sólidos que está em discussão há mais de dezoito anos no congresso e até hoje não foi aprovada.

Precisamos avançar, também, na questão do transporte coletivo, e mesmo na questão de privilegiar a mudança do comportamento do consumidor, que deve abrir mão do transporte individual, mas que para isso precisa ter um transporte coletivo de qualidade. O Brasil precisa ter uma posição agressiva nas negociações internacionais e, por outro lado, ser bastante rápido para conseguir fazer esta revolução dos padrões de produção e consumo internamente.

Em um relatório divulgado recentemente, a China foi apontada como o país cujos desafios serão maiores. O Diretor Geral do Departamento de Mudança Climática chinês afirmou que, a partir de 2050, as emissões de carbono do país começarão a diminuir. Que perspectivas podemos ter quando vivemos a “Revolução Tecnológica” e temos países crescendo como a China?
Gunn –
O desafio que enfrentamos é de garantir à boa parte da população mundial, que até hoje está excluída do mercado de consumo, que tenham acessos a bens e serviços essenciais para uma vida digna. Mas, de fato, precisamos dessa revolução tecnológica que garanta que as alternativas não vão ser só para parte da população, que tem condições de pagar por carros mais eficientes ou por comida sem agrotóxico, temos que garantir que esses produtos e serviços “sustentáveis” cheguem para todas as pessoas que hoje não têm acesso a esse consumo. É uma revolução que precisamos fazer no padrão de consumo. Não dá acharmos que todo mundo pode ter um carro, isto é inviável, tanto do ponto de vista social quanto ambiental. Não existem recursos naturais para garantir carros para todo mundo, e se todos tivessem carros não iríamos conseguir circular.

Ainda dá tempo de construir um mundo sustentável?
Gunn –
Dá tempo. Se não acreditarmos que dá tempo vamos chegar em um ponto de inação. O que a campanha TIC TAC pretende e quer dizer é que é hora de agir. A hora é agora. Sem dúvida dá tempo e a gente precisa arregaçar as mangas e ter essa ideia da co-responsabilidade. Poder público, empresas e consumidores precisam se empenhar para construir essas alternativas de padrões de produção e consumo.

Para ser ideal, o que esse acordo global precisa ter?
Gunn –
Para origem e o compromisso destas metas agressivas de redução, precisamos ter uma série de acordos que garantam que estas mudanças sejam aplicáveis em todos os lugares. Por exemplo, tem toda uma questão de procedência tecnológica e de apoio financeiro que deve estar acordada para que possamos ter estas mudanças radicais. Não dá para dizermos o que tem que fazer se não avançarmos no “como fazer”. Precisamos que este acordo em Copenhagen traga todos esses elementos.

O TIC TAC vai agindo de que forma até a realização da conferência de Copenhagen?
Gunn –
Tem várias atividades, temos um site (http://www.tictactictac.org.br/), temos um abaixo assinado, que vai estar tanto nesta página quanto em qualquer outro site de organização que queira apoiar a campanha. Além disso, tem vários dias de ação. Agora no dia 29, sábado, haverá o lançamento da campanha em diversas capitais do Brasil, com diversas atividades. O dia 21 de setembro também é um dia de ação, pois é a véspera da abertura da Assembléia das Nações Unidas, um momento importante que temos a sinalização desses compromissos pelos líderes de Estado.

O objetivo é que esta campanha seja horizontal, no sentido de que não é pensada por uma organização, são várias organizações da sociedade civil que a estão abraçando, e que seja uma campanha que todo mundo possa abraçar. A ideia é ter essa mobilização da sociedade civil em torno da importância, não só das negociações em Copenhagen, mas também desses compromissos que todos devem assumir para ter estas mudanças tão radicais que precisamos.

Qual o papel do Brasil nessa campanha?
Gunn –
Esta campanha TIC TAC é internacional. No Brasil, assumimos ela justamente por entender que o país é extremamente importante, não apenas nessas questões internacionais, mas também em termos de impactos das emissões. O Brasil é hoje o quarto maior emissor de gases do efeito estufa, portanto temos que ter um papel de liderança na mudança efetiva dos padrões de produção e consumo.

(IHUnisinos, 28/08/2009)


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