A primeira de cinco telas de proteção Wind Fence, para a redução do pó de minério que emite há décadas, será inaugurada pela Vale nesta sexta-feira (28/08). A tela só será estará completamente instalada no final de setembro. E só em 2011 ela e as outras quatro que faltam vão completar o pacote de compromissos ambientais assumidos pela empresa em 2017.
O trabalho completo de combate ao “pó preto será” capaz de reduzir 80% das emissões. Mas isto só vai acontecer quando a quinta tela prometida for instalada, em 2011. A medida é uma obrigação da empresa para com a sociedade, que há 22 anos convive com a poluição indiscriminada da mineradora.
Apesar da inauguração antecipada da mineradora, somente a “primeira parte” da primeira tela foi instalada. A promessa é que o restante da tela seja instalado até o final de setembro, outras três telas até 2010 e a quinta tela somente em julho de 2011. A Wind Fence é uma estrutura metálica fechada por telas de polipropileno que suportam ventos de até 120 km/h e possuem até 21 metros de altura. A sua tela, em formato aerodinâmico, minimiza a dispersão do pó de minério no ar da grande Vitória.
Além das telas, a Vale se comprometeu a enclausurar suas áreas de transferência de minério entre uma correia e outra; trocar seus carregadores de navio por um novo modelo que inclua uma tromba capaz de impedir a dispersão do minério no ar e no mar; instalar sistemas de aspersão de água no processo de manuseio do pó e de aspersão de polímeros nas pilhas de minério.
Segundo ambientalistas, é importante lembrar que a mineradora nada mais faz do que atender, pela primeira vez, às exigências feitas por mais de vinte anos pela sociedade. Eles lembram que um TAC já havia sido assinado com a empresa na década de 90, mas foi ignorado pela até a decisão sobre sua expansão, quando uma negociação foi iniciada com a sociedade. Sob a ameaça da população e do próprio MPES, de que não seria autorizada sua expansão caso não garantisse as exigências da sociedade, a mineradora então foi obrigada a iniciar ações neste sentido.
Com a espera, os capixabas sofreram não só com a sujeira em suas casas, mas também com o aumento de casos de alergias, bronquite, sinusite, entre outras doenças, principalmente entre idosos e crianças. Participam da solenidade de inauguração na Vale a secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), Maria da Glória Brito Abaurre; a diretora presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Sueli Passoni Tonini, e o diretor da Vale Felipe Guardiano.
É preciso mais
Mesmo com as medidas previstas pelo TAC, ainda há muito o que fazer para que a Vale minimize seus impactos. Um inventário começou a ser produzido pela empresa, porém ele ignora as emissões no Estado. Segundo divulgado pela empresa, a mineradora joga no ar 16,8 milhões de noteladas de CO² no mundo, sendo que pelo menos 11,6 milhões de toneladas de CO² são emitidas no Brasil, com o Espírito Santo figurando como um dos que mais sofrem com o problema.
Porém, quando chega às pelotizadoras de minério de ferro, o caso do Estado, não há nenhum número que mostre a dimensão da poluição por aqui provocada. Baseado nas omissões da empresa durante anos e no que eles chamam de “moeda de troca” entre condicionantes e licenças para expandir e poluir ainda mais, os ambientalistas afirmam que é preciso ficar atento ao inventário da empresa, assim como os cumprimentos dos deveres previstos no TAC.
Alertam que, para camuflar a quantidade de poluentes que lança dia e noite na atmosfera da Grande Vitória, a empresa apenas diz que os grandes fornos exigem queima significativa de combustível, e alega que o esforço consiste em trocar o óleo por gás.
Há ainda o problema com o “óleo baiano”. Nunca é demais lembrar que desde 1969 os moradores da Grande Vitória são bombardeados por derivados do enxofre lançados no ar pela Vale. Tais produtos são derivados do chamado "óleo baiano" e são cancerígenos. Apesar da promessa da empresa de que irá trocar o óleo por gás, algumas usinas de pelotização e suas empresas coligadas em Tubarão ainda têm como combustível apenas o "óleo baiano".
A poluição atmosférica produzida pelo "óleo baiano" ocorre na combustão, quando o enxofre é convertido nos óxidos de enxofre (SO² e SO³) e são emitidos para a atmosfera. Estes óxidos de enxofre na atmosfera reagem como as gotículas de água em suspensão, resultando no ácido sulfúrico (H²SO4) que causa a chuva ácida.
Mesmo representando danos ao homem e ao meio ambiente, até hoje o produto é usado apenas por economia. É que o "óleo baiano" é produzido em grande quantidade no Brasil. Seu uso é proibido na Europa e nos Estados Unidos, pois tem teor de enxofre que varia entre 4,5% e 5% do peso do combustível. Como a produção nacional é grande e o seu emprego limitado, o preço é baixo.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 28/08/2009)