Com a aquisição e a incorporação da Aracruz, o grupo Votorantim consolida-se na liderança de mais um ramo de negócio, dentro de seu portfólio focado em indústria de capital intensivo e insumos básicos. No país, já está na ponta na fabricação de cimento e zinco, tem a maior usina integrada de alumínio, é líder em níquel e está em terceiro lugar na produção de suco de laranja, mesma posição no ranking mundial.
"O negócio da Aracruz só reforça a vocação do grupo", afirmou Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial, holding que engloba vários negócios, inclusive a geração de energia para consumo próprio do conglomerado. A operação, disse o executivo, enfrentou no meio do caminho a turbulência financeira internacional que afetou desde meados de setembro do ano passado a economia de todos os países. "A operação ficou muito mais trabalhosa, mas já é uma etapa vencida pela determinação do grupo".
A Fibria, na fabricação de celulose de mercado, assume a ponta dos produtores mundiais e passa a responder por 22% da geração de receita da Votorantim, atrás de cimento e de metais (alumínio, zinco, níquel e aço). Celulose volta a ganhar mais peso no grupo. Nos últimos seis anos, comentou o executivo, a Votorantim reduziu seu portfólio de ativos e canalizou recursos para os principais negócios. Ao mesmo tempo, ampliou o processo de internacionalização, iniciado em 2001 pela área de cimento nos EUA. Em zinco, investiu no Peru, depois nos EUA e até a China, tornando-se o quinto produtor mundial e segundo das Américas. Na fabricação de aço, adquiriu siderúrgicas na Colômbia e na Argentina, com objetivo de ser uma força regional no setor.
No momento, o grupo constrói em Cajamarquilla, no Peru, uma das maiores metalúrgicas de zinco do mundo, apta a fazer 320 mil toneladas por ano a partir de janeiro de 2010. O investimento é de US$ 500 milhões. No país, passou a ser também um grande minerador de zinco. Apesar do forte impacto da crise no mercado de commodities metálicas, o projeto foi mantido.
"O expertise do grupo está na integração de florestas e sua conversão, com celulose e suco de laranja, e de mineração, com cimento e metais", afirmou Calfat, executivo de confiança da família Ermírio de Moraes colocado à frente das operações industriais. Segundo ele, as duas áreas conversam por meio do Sistema de Gestão Votorantim .
Neste ano, o programa de investimentos soma R$ 4,2 bilhões, contemplando no Brasil três fábricas de cimento, uma de aço (Resende-RJ), a de celulose de Três Lagoas (MS), duas hidrelétricas e no Peru a duplicação de Cajamarquilla e incluiu a compra de Aracruz e de ações da Vale na Usiminas. "Em três anos, o grupo aplicou R$ 21 bilhões". Deste valor, 28% destinaram-se a aquisições.
Para Calfat, a ratificação do grau de investimento pela Standard & Poor's, há poucos dias, é outra boa notícia para o grupo. "Foi mantido o triplo B, um acima do grau de investimento do Brasil, e o mesmo nível de Itaú e Bradesco".
Novo nome remete à determinação
Se a crise econômica mundial impôs obstáculos no caminho para a criação da maior fabricante de celulose de mercado do mundo, o grupo Votorantim parece disposto a enfatizar suas virtudes na denominação da nova companhia resultante da união entre as operações de Votorantim Celulose e Papel e de Aracruz Celulose.
Fibria, como passa a ser chamada a nova fabricante de celulose, é um neologismo da palavra fibra. "O nome tem conotação com a essência da atividade da empresa", explicou Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial, sobre o processo de extração da fibra da madeira para produção de celulose. Mas também realça os atributos de "firmeza, determinação e correção" disse ele, indicando o esforço feito na criação das empresas.
Com uma folha de árvore estilizada, inspirada na letra "V" do logotipo da Votorantim, a nova marca estampará as unidades industriais e os escritórios administrativos e comerciais da companhia espalhados ao redor do mundo. A razão social da empresa não muda agora porque depende da aprovação dos acionistas em assembleia. A partir daí, as Bolsas de Valores de São Paulo e Nova York mudarão o código de negociação das ações.
A Fibria é a principal exportadora de celulose do Brasil. A fábrica da empresa no Espírito Santo, que era conhecida como Barra do Riacho, será chamada de Aracruz, mas os nomes da antiga fabricante e o da VCP vão desaparecer. A partir de agora, os fardos de celulose exportados pela Fibria vão receber o carimbo da nova marca.
(Por Ivo Ribeiro e André Vieira, Valor Econômico, 28/08/2009)