O Brasil deve ficar com 80% da energia gerada nas primeiras cinco usinas a serem construídas no Peru, que poderá ser exportada para outros países da região. As usinas, que podem chegar a 15 se todos os projetos saírem do papel, serão construídas por empresas brasileiras, com capital próprio e financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O modelo difere um pouco do que foi adotado na implantação de Itaipu, que foi construída pelo Estado brasileiro. Além disso, na opinião do analista político de América Latina, Thiago de Aragão, o Peru vive uma situação diferente da do Paraguai, que recentemente questionou o contrato com o Brasil sobre o preço de venda da energia gerada na usina binacional.
“O Peru tem instituições mais sólidas, não tem o problema endêmico de corrupção que tem o Paraguai. Além disso, os peruanos aprenderam a separar o crescimento econômico de 7% a 8% ao ano das questões políticas. Então, esse crescimento não resulta necessariamente na popularidade alta do presidente”, explica o analista, justificando porque o mandatário poderia não ter o aval da população para mexer no contrato com o Brasil.
Aragão lembra que o acordo é interessante para os vizinhos porque eles são muito dependentes do gás natural boliviano, o que não permite um planejamento estratégico em função das instabilidades do país de Evo Morales.
Os pontos positivos para os dois países envolvidos na construção das usinas, no entanto, não convencem o analista em energia Paulo Homem. Ele acredita que a parceria não vale a pena para o Brasil, que poderia estar apostando em empreendimentos internos. “Eu acho que não vale a pena. A gente poderia se concentrar em aumentar o nosso potencial energético”.
Segundo ele, existe uma série de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) que, se tivessem suas construções liberadas imediatamente, gerariam energia equivalente a muito mais usinas dessas que estão sendo construídas com o Peru, que vão gerar ao todo 6 mil megawatts de potência, em média.
“Existe também a questão do petróleo, do gás, da energia eólica. Nós temos uma infinidade de possibilidades energéticas aqui no Brasil e não precisamos ir ao Peru produzir energia. O Brasil sabe disso e promove essa parceria muito mais para avançar na sua estratégia geopolítica”, alega Homem. O Brasil tem estoque de energia de 105 mil megawatts, mas estima-se que em dez anos já precisará de 50% a mais. Em 30 anos, segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, essa capacidade terá que ser dobrada.
(Por Mariana Jungmann, com edição de Tereza Barbosa, Agência Brasil, 26/08/2009)