O projeto de construção de usinas hidrelétricas binacionais com o Peru tem dividido os analistas internacionais brasileiros. Do ponto de vista geopolítico e de integração, a ideia parece positiva para o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em América Latina, Francisco Doratioto. Para ele, a integração energética beneficia todos os países envolvidos, não apenas para o Brasil. Doratioro explica que, à medida que o país estreita relações econômicas e políticas com os vizinhos, sua presença na América do Sul é maior e ele passa a ser visto pela Europa e pelos Estados Unidos como um jogador importante.
“Então, quando o Peru estreita relações com o Brasil, ele também ganha peso político em relação à sub-região andina e à América do Sul”, diz o professor. Segundo ele, por ser o maior beneficiado político dessa aproximação com os vizinhos, o Brasil precisa arcar com os custos. “O sócio maior no processo de integração tem que fazer concessões. Foi assim com a Alemanha no processo de integração com a Europa, por exemplo. Nós não somos tão ricos quanto a Alemanha, mas também temos que arcar com alguns custos”.
Quanto aos riscos futuros do negócio, são médios, de acordo com o analista político de América Latina, Thiago de Aragão. Ele afirma que, apesar de o atual presidente do Peru, Alan García, ter um histórico de comprometimento com os contratos assinados, seu principal opositor político, Ollanta Humala, é ultranacionalista e poderia querer a revisão do acordo com o Brasil caso fosse eleito.
“Ele perdeu as últimas eleições no segundo turno por muito pouco e é muito mais radical que o Evo Morales na Bolívia, por exemplo. Então o risco que o Brasil pode enfrentar não é no momento da assinatura do contrato, mas um risco de intervenção no futuro, caso um candidato como esse ganhe”.
(Por Mariana Jungmann, com edição de Tereza Barbosa, Agência Brasil, 26/08/2009)