O Jornal Pessoal completa nesta edição (448/2009) 22 anos. Tornou-se o mais duradouro periódico da imprensa alternativa brasileira, na véspera de chegar a 450 números. Sofreu duas interrupções nesse período, mas por pouco tempo. Em ambas, tentei por um fim nele. Não consegui. Desde 1992 o jornal não sofreu qualquer hiato e até lançou edições extras, quando a conjuntura exigiu. Sobre seu significado, a palavra é do distinto leitor. Divido com ele, nesta data significativa para mim (coincide com meus 60 anos), duas reflexões.
A primeira delas: ainda há sentido em manter este jornal? Ele ainda merece continuar a circular? Atende a necessidades não satisfeitas do leitor ou é apenas uma opção a mais de leitura que ele tem, ociosa ou supérflua? Já está na hora de encerrar a sua carreira ou ainda tem importância para a formação da opinião pública?
A outra reflexão: sem a perseguição judicial desencadeada a partir de 1992, com um saldo de 33 processos, 13 deles ainda ativos, o jornal continuaria a existir? Ou, dito de outra forma: foi a perseguição dos meus adversários e inimigos através do judiciário que me obrigou a manter o jornal, como uma questão de honra, um compromisso com a boa moral coletiva?
A primeira ordem de perguntas, eu as transfiro ao leitor, a fonte autorizada a respondê-las. Já o segundo questionamento me diz respeito. Aprofundá-lo tem sido uma fonte de angústia para mim. Certamente o Jornal Pessoal teria sucumbido se não tivesse que reagir à evidente manobra para matá-lo, embutida nos processos judiciais. Sobreviver se tornou uma questão vital. Também uma afirmação da dignidade pessoal e da verdade.
A moral que resultaria da extinção deste jornal sob a balança viciada da justiça seria muito ruim para a causa pública. Pelo contrário, a resistência demonstra - para quem ainda está disposto a ver e aprender - que os poderosos podem muito, mas não tudo; que não é preciso ter poder equivalente ao deles (ou simplesmente nem é preciso ter poder algum) nem usar seus métodos para entestá-los. Ainda que não se consiga vencer, prova-se que o combate é possível. E vale a pena travá-lo, mesmo que o preço a pagar seja muito alto.
Se tal moral for extraída da sua existência, este pequeno e já duradouro Jornal Pessoal terá direito a achar que sua missão foi cumprida.
(Por Lúcio Flávio Pinto*, Adital, 25/08/2009)
* Jornalista paraense e publisher do Jornal Pessoal (JP)