Novas pesquisas e modelos matemáticos, cada vez mais sofisticados, indicam que as ameaças do aquecimento global e das mudanças climáticas já não são meras possibilidades. Pior que isto, os dados já alertam para a realização dos piores cenários e, com eles, grandes impactos na saúde publica. Um novo estudo [Heat stress in older people and patients with common chronic diseases], publicado na revista online Canadian Medical Association Journal, descreve o efeito do calor sobre a fisiologia humana e os fatores que aumentam o risco de estresse por calor.
O estudo indica que as pessoas com mais de 60 anos de idade são as mais vulneráveis às ondas de calor, com 82% a 92% mais mortes do que a média nesta faixa etária. Riscos de doenças relacionadas ao calor ou lesões (exaustão pelo calor e cãibras de calor) serão mais frequentes em pessoas com obesidade, doenças cardíacas, diabetes e doenças respiratórias, tendo em vista que estas condições diminuem a capacidade do organismo em se adaptar às mudanças de temperatura.
Testes em laboratório, baseados em estudos fisiológicos, mostraram que, nestes grupos de risco, a capacidade de detetar o calor é reduzida e a resposta fisiológica ao calor, com distribuição adequada de sangue e suor para resfriar o corpo, é mais lenta. A sua capacidade de pronta resposta à sede também foi mais lenta e eles levaram mais tempo para se recuperarem da desidratação. As pessoas de grupos socioeconômicos com menor poder aquisitivo, baixos níveis de escolaridade e aqueles em situação de isolamento socialmente também têm um risco maior de mortalidade.
O ar condicionado está associado a uma redução de risco de 80% e os ventiladores a uma redução de 30%. As condições de habitação também se apresentam como fator de risco, porque as pessoas de baixa renda muitas vezes vivem em moradias de má qualidade, reduzida ventilação, superlotadas e, evidentemente, sem sistemas de refrigeração. Os sem-teto estão em risco por causa da falta de abrigo do calor extremo e muitas vezes também por questões físicas ou psiquiátricas subjacentes .
Nos EUA, os eventos extremos de calor (EHE), ou ondas de calor, destacam-se como maior causa de mortalidade relacionada ao clima, responsáveis por mais mortes anualmente do que furacões, raios, tornados, terremotos e inundações combinados. Um estudo anterior [The 2006 California Heat Wave: Impacts on Hospitalizations and Emergency Department Visits ] identificou que a onda de calor de 2006 na Califórnia aumentou a mortalidade.
Um outro bom exemplo dos riscos à saúde pública decorrentes das mudanças climáticas ficou demonstrado na onda de calor na Europa, em 2003. Os dados oficiais informam que esta onda de calor foi responsável por mais de 14 mil mortes na França, 4,2 mil na Itália e Espanha, 2 mil em Portugal e mais de 2 mil no Reino Unido. Calcula-se que, no total, a onda de calor tenha sido responsável, naquele ano, por mais de 35 mil mortes.
Ao mesmo tempo, esta onda de calor foi responsável por uma temporada de incêndios florestais excepcionalmente violenta, que, por exemplo, devastou 10% das florestas em Portugal.
O sistema de saúde entrou em colapso, especialmente na França, aumentando os casos de mortes consideradas evitáveis com atendimento emergencial. A maioria das vítimas francesas faleceu em razão de desidratação e o sistema público/privados de saúde não estava preparado para atender a milhares de casos simultâneos de desidratação.
Estudo recente confirmou que, na Europa, os dias mais quentes aumentam as internações hospitalares por problemas respiratórios. O estudo “Heat stress in older people and patients with common chronic diseases” está disponível para acesso integral no formato PDF. Para acessar o artigo clique aqui.
(Por Henrique Cortez, EcoDebate, com informações de Kim Barnhardt, da Canadian Medical Association Journal, 25/08/2009)