Segundo o Greenpeace o setor de derivados de leite da Nova Zelândia está incentivando a destruição de florestas tropicais no Sudeste Asiático ao utilizar o bagaço de sementes de palmas para a alimentação dos rebanhos
A expansão do plantio de palmas em países como Malásia e Indonésia com o objetivo de extrair óleo para biocombustíveis já é alvo de criticas de ambientalistas há alguns anos. Agora, o Greenpeace alerta que o aumento da utilização do bagaço das sementes das palmas (palm kernel) para a alimentação do gado da Nova Zelândia está sendo mais um incentivo para o desmatamento de florestas tropicais.
Segundo a ONG, o gado neozelandês consome um quarto de todas as sementes de palmas vendidas no mundo, o equivalente a 1,1 milhão de toneladas, a um custo de US$ 204 milhões. O país só fica atrás da União Européia como maior consumidor. Para o Greenpeace, o grande vilão é a empresa Fonterra, que possui 95% das fazendas de leite e derivados da Nova Zelândia e é a maior fornecedora mundial do setor. “É um escândalo que a Fonterra esteja alimentando seus animais com um produto que está contribuindo diretamente para a destruição das florestas e assim agravando às mudanças climáticas. O governo deveria impedir a importação de sementes de palma”, afirmou o ativista Simon Boxer, do Greenpeace da Nova Zelândia.
Segundo o porta-voz do grupo de Fazendas Federadas da Nova Zelândia, John Hartnell, o bagaço da semente de palma é um produto residual, resultante do esmagamento da semente para a produção de óleo, que se não fosse utilizado para a alimentação do gado acabaria sendo apenas queimado pelos agricultores. Por sua vez, os ambientalistas argumentam que as fazendas utilizam as sementes como um substituto barato para os grãos produzidos na Nova Zelândia, que são de baixo impacto para o meio ambiente.
Em defesa da Fonterra, o porta-voz da empresa, John Hutchings, respondeu à acusação alegando que apenas 1% da alimentação dos animais seria formada pelas sementes das palmas, o restante em sua maioria é pasto comum. De qualquer forma, o consumo do produto cresceu exponencialmente na última década na Nova Zelândia, passando de apenas 400 toneladas em 1999 para 1,1 milhão de toneladas em 2008. “Mais de 1,5 milhão de hectares de palmas foram plantadas em áreas de florestas tropicais na Malásia e Indonésia para conseguir suprir a demanda em 2008. Para piorar, nenhum dos importadores da Nova Zelândia atende os padrões de sustentabilidade acertados pelo Roundtable on Sustainable Palm Oil”, explica em nota o Greenpeace.
Testemunhas
Para dar mais força à sua acusação, membros do Greenpeace fizeram uma jornada pelo interior da Indonésia acompanhados por um fazendeiro neozelandês e um jornalista independente. O grupo percorreu centenas de quilômetros e visitou um centro de ajuda aos animais que ficaram sem seus habitats devido à devastação das florestas. O diretor do centro afirmou que restam apenas mais dois anos para evitar a perda total do habitat dos orangotangos, por exemplo.
Depois, viajaram até áreas que foram recentemente desmatadas para o plantio de palmas, onde foram recebidos por dois líderes de comunidades locais. De pé sobre o solo queimado, os líderes contaram como o governo comprou suas terras, desmatou, ateou fogo e já prepara para o plantio das palmas. A companhia responsável pela terra agora é a Duta Palm, uma das forncedoras da Fonterra. “Isto simplesmente não está certo”, teria dito o fazendeiro que acompanhava o grupo da ONG, Max Pumell, ao ver a desolação.
As florestas da Indonésia estão sendo destruídas em um ritmo mais rápido do que qualquer outra no planeta. O desmatamento e as queimadas são os grandes responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa do país, que é o terceiro maior emissor mundial, ficando atrás apenas da China e dos EUA.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 24/08/2009)