A imprensa saudou com entusiasmo o anúncio do desligamento da senadora Marina Silva do PT e sua filiação ao Partido Verde, pelo qual deverá concorrer à presidência da República. Marina Silva é uma das raras unanimidades positivas. Num momento em que o Senado tornou-se uma Casa dos Horrores, sua trajetória pessoal e política é impecável, sua postura e compostura primam pela elegância.
Marina fala bem, escreve bem e, sobretudo, pensa bem. Tem carisma e nenhuma arrogância. Além dos atributos pessoais, o simples aparecimento de um novo nome num quadro eleitoral há muito saturado pela mesmice já é, em si, excelente notícia – cria novas expectativas, algumas incógnitas e sugere surpresas. A imprensa adora novidades e novidades na corrida presidencial abrem o leque da representatividade e da democracia.
Caso positivo?
Acontece que Marina Silva tem compromissos públicos com a causa ambiental e o desenvolvimento sustentável. Sua plataforma será majoritariamente verde, o que será muito bom para o país, para as Américas e o resto do mundo. Então, cabe perguntar: este entusiasmo da mídia pela inflexível Marina vai continuar quando suas ousadas e justas propostas começarem a ser debatidas? A mídia saberá acolher suas bandeiras anticonsumo desenfreado com o mesmo entusiasmo com que agora recebeu uma nova candidatura feminina, a anti-Dilma?
Sabemos que a mídia adora denunciar o desmatamento acelerado da Amazônia, mas sabemos também que a mídia é avessa à punição de ruralistas, quase todos na oposição. Nossos veículos usam as cruzadas ambientais para atrair simpatias, sobretudo no leitorado mais jovem. Cada jornalão preserva como ícone um articulista antipoluidor. Mas quando entrar em discussão o controle do apetite empresarial a mídia manterá o mesmo idealismo? Em caso positivo, será uma revolução.
(Por Alberto Dines, Observatório da Imprensa, 24/8/2009)