Começa no dia 3 de setembro entre Mato Grosso e Goiás o “Rally Ecológico Berohokã-Ilha do Bananal”, que vai percorrer cerca de 1.400 quilômetros na região do rio Araguaia. A competição, de regularidade, tem ecológico no nome e seus organizadores garantem que estão respeitando todas as regras ambientais no trajeto. Só que esqueceram de protocolar na coordenadoria de unidades de conservação de Mato Grosso o pedido para atravessar o Parque Estadual do Araguaia, a maior unidade de conservação de proteção integral do estado, com 230 mil hectares e um plano de manejo publicado em dezembro de 2008 que menciona textualmente que competições esportivas como ralis e motocross, por exemplo, estão proibidos por causarem danos à unidade.
Segundo Alexandre Batistela, coordenador de unidades de conservação da Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA), a área é extremamente frágil e importante em termos de biodiversidade, pois abriga boa parte do chamado Pantanal do Araguaia.
“Ninguém apresentou nada até agora. Há dois meses os empreendedores nos procuraram e eu expliquei que eles precisavam fazer um projeto detalhado para nossa análise técnica, mas tudo que eles trouxeram foi o folder do convite da competição na sexta-feira passada”, explicou Batistela. A coordenadoria de unidades de conservação é a instância responsável pelas áreas protegidas do estado.
Mas se não foi a coordenadoria, Nuncyo D'Ery, da assessoria de comunicação do evento, afirma que a competição teve aval da SEMA que, junto com a secretaria de turismo do estado, participou de reuniões com os organizadores. “O rali vai passar por 20 quilômetros dentro do parque e haverá uma equipe da própria Sema na entrada para acompanhar os carros”, disse D’Ery a O Eco. A coordenadoria de unidades de conservação, no entanto, garante que os empreendedores passarão por 56 quilômetros dentro do parque estadual numa estrada que fica intrafegável durante o período de cheia e que separa, numa margem, as áreas de uso intensivo das de uso intangível da unidade.
O governo de Mato Grosso é oficialmente um dos principais apoiadores do evento. O estado arrumou recursos para disponibilizar inclusive helicópteros para acompanhar a competição, mas não faz o mesmo para implantar o parque, que hoje conta com um gerente, um agente ambiental e três funcionários cedidos pela prefeitura municipal de Novo Santo Antônio. Graças a um termo de parceria com a prefeitura, cerca de 50 placas foram encomendadas para sinalizar a unidade de conservação.
Embora a competição mencione em seu nome a Ilha do Bananal, os organizadores disseram que os carros não passarão pela área, cuja estrada principal atravessa uma terra indígena.
(O Eco, 24/08/2009)