Os 5 erros da operação policial
Comando da Brigada Militar admite falhas na desocupação em que morreu integrante do MST. Um somatório de cinco grandes falhas foi decisivo para o desastroso desfecho da operação da Brigada Militar que resultou na morte do sem-terra Elton Brum da Silva, 44 anos, em São Gabriel, na sexta-feira (21/08).
O principal deles, e determinante para a queda do subcomandante-geral da BM, coronel Lauro Binsfeld, responsável pela desocupação, foi não ter levado o Batalhão de Operações Especiais (BOE), a tropa de elite da corporação, treinada à exaustão para situações de alto risco e controle de tumulto. A operação ficou a cargo de PMs das regiões do sul do Estado, acostumados a outro tipo de rotina no patrulhamento diário das ruas.
As razões para o BOE ficar de fora da operação ainda são um mistério, pois a cúpula da BM evita falar sobre o episódio, sob a alegação de que um inquérito policial-militar vai apurar a conduta dos PMs. Contudo, especula-se que o motivo para excluir o BOE da operação tenha sido uma avaliação equivocada da situação dentro da fazenda.
A julgar pela nota divulgada sábado pelo comandante-geral da BM, coronel João Carlos Trindade, ao anunciar a destituição do subcomandante-geral, Trindade desconhecia que o BOE tinha sido dispensado de mandar seus homens para São Gabriel. “Constatou-se erro na execução, na medida em que o planejamento do comandante-geral não foi seguido na íntegra”, informa o texto.
Sabe-se que 150 PMs do BOE, em Porto Alegre, estavam prontos para embarcar para São Gabriel a qualquer momento, aguardando apenas ordem superior, que não veio. Nos quartéis, a ausência do BOE na Fazenda Southall causou perplexidade entre PMs, de soldado a coronel.
– Isso é inacreditável – espantou-se um oficial.
Raramente o BOE (seja a unidade da Capital, de Passo Fundo ou de Santa Maria) é excluído desse tipo de operação.
– Quando se vai agir em situação de risco, a regra número um diz para levar o melhor que se tem, e o melhor é o BOE – acrescentou outro graduado PM.
Após a entrevista no sábado, Trindade repassou o celular funcional para um assessor e mandou dizer que não falaria mais sobre o episódio.
Em tempos recentes, quando o coronel Paulo Roberto Mendes esteve à frente de desocupações, costumava andar acompanhado dos três batalhões, cerca de 600 PMs, em todas as operações. Criticado por integrantes da tropa por usar excessivamente o BOE e considerado inimigo dos movimentos sociais, Mendes atravessou dois anos às turras com invasores sem incidentes de maior gravidade. Atual juiz militar, o coronel se esquivou de comentar o assunto.
A morte do sem-terra servirá de exemplo na BM de como não executar uma operação de risco. Nos bastidores da BM, é unânime o sentimento de que, nas próximas mobilizações sociais, será indispensável a presença de unidades especializadas, bem treinadas, com total sintonia entre comandantes e comandados e dialogar mais com os manifestantes.
(Por José Luís Costa, Zero Hora / IHUnisinos, 24/08/2009)