O tiro da espingarda calibre 12 que matou Elton Brum da Silva, 44 anos, teria sido disparado a menos de um metro de distância do sem-terra. E o atirador estaria entre os seis PMs que entraram pela frente do acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Fazenda Southall, em São Gabriel.
Essas são conclusões preliminares de uma reconstituição não oficial feita com a participação de autoridades e sem-terra no local do episódio, no sábado à tarde (22/08). A comitiva que assistiu às descrições era formada pelo delegado Laurence Teixeira, da Polícia Civil de São Gabriel, o ouvidor agrário nacional, desembargador Gercindo José da Silva Filho, Ailson Silveira Machado, da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, e o delegado da Polícia Federal (PF) Luiz Eduardo Navajas.
O acampamento ficava em uma elevação no terreno e formava um círculo cujo diâmetro podia ser percorrido com cerca de 110 passos. Os cerca de 250 PMs foram espalhados ao redor. Os sem-terras defendiam a invasão armados de foices, paus, estilingues e facões. E ao redor do acampamento existia um buraco (de um metro de profundidade por 50cm de largura) cheio de galhos e pneus. O objetivo era queimar o material na vala na hora da chegada dos PMs.
Pelo menos um dos 12 PMs armados com espingarda calibre 12 entrou por um portão de ferro colocado na barreira formada ainda por troncos, pedras e arame farpado. Segundo o relato feito pelo sem-terra Toni Maciel Gomes da Silva, 19 anos, ao delegado Teixeira, o portão era defendido por ele e por Brum. Os dois portavam escudos de madeira compensada, eficiente apenas para deter balas de borracha.
– Assim que os brigadianos derrubaram o portão, eu e o companheiro (Brum) recuamos para o acampamento, com dois deles (PMs) no encalço. Enquanto corria, olhei para trás e vi que um estava armado com uma pistola e o outro, com espingarda. Não fomos longe. Fomos derrubados e não vi mais nada. Fui saber depois que ele havia morrido – descreveu Gomes.
No chão ainda havia sangue. O delegado Teixeira disse que pedirá ao responsável da BM pela retirada dos sem-terra o relatório da operação, onde acredita que poderá identificar o responsável pelo tiro.
– É tanto meu interesse quanto da BM chegar a quem apertou gatilho. Essa reconstituição não oficial forneceu subsídios importantes que farão parte do inquérito – comentou Teixeira.
(Por Carlos Wagner, Zero Hora / IHUnisinos, 24/08/2009)