O Pantanal brasileiro acaba de ganhar uma organização não-governamental (ONG) criada exlcusivamente para proteger o bioma. Lançada oficialmente no mês passado, a SOS Pantanal terá como presidente do conselho o empresário Roberto Klabin, herdeiro do Grupo Klabin mais conhecido por seu envolvimento com causas ambientais, e terá como principal objetivo produzir informação técnica qualificada sobre a região para aprofundar o diálogo com o setor agropecuário.
"Nosso maior problema hoje é a falta de conhecimento sobre esse bioma. A intenção é mostrar que o Pantanal existe", afirma Alessandro Menezes, diretor-executivo da ONG, com sede em Campo Grande (MS). "Nós não precisamos esperar que a desgraça aconteça - como os desmatamentos na Amazônia e na Mata Atlântica - para só então agir. Precisamos ser preventivos aqui", acrescenta.
A falta de dados científicos atualizados e de políticas públicas de proteção, especialmente federais, têm sido duas grandes ameaças à região. Além da pesença de organizações não-governamentais fortes, Amazônia e Mata Atlântica contam com índices periódicos de desmatamento, campanhas e fluxo garantido de dinheiro para ações de preservação. O Pantanal e os demais biomas brasileiros, nesse contexto, são marginalizados.
Por esse motivo, a SOS Pantanal prepara para divulgar em setembro seu primeiro produto: o mapeamento por satélite da região, incluindo a planície pantaneira (as áreas alagadas) e o planalto, onde estão as cabeceiras dos rios da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai. Com esse mapeamento, a nova instituição terá condições de saber onde se localizam os desmates - município por município - e para quê eles estão sendo convertidos.
De antemão, já se sabe que o problema maior é no planalto. Ali, 60% da vegetação nativa já foi para o chão. Nas áreas alagadas, o estrago é mais limitado, com 85% da área preservada. "Mas há uma interdependência entre planície e planalto que as pessoas precisam enxergar", diz Menezes. Sem vegetação, as cabeceiras tendem a secar, diminuindo a vazão das áreas alagadas, altamente turísticas.
Segundo o ambientalista, a ideia de se criar uma ONG para o Pantanal já existia havia alguns anos. O grande impulso, no entanto, ocorreu com uma tentativa do governo de Mato Grosso do Sul de mudar a lei estadual 328/82,que impedia a instalação de usinas de açúcar e álcool nas bordas do Pantanal. "Essa decisão do governo provocou forte reação pública", afirma Menezes. Em um ato de protesto contra a proposta , um ambientalista da região morreu ao atear fogo no próprio corpo."Percebemos que, mais do que nunca, era necessário o diálogo para que radicalismos como esse não ocorressem mais".
(Por Bettina Barros, Valor Econômico, 24/08/2009)