Empresa estuda outras opções para resolver seu problema de endividamento, que chega a R$ 6 bilhões
Depois de ser fortemente afetada pela crise econômica global, a gigante petroquímica Quattor estuda opções para resolver seu problema de endividamento. Uma das opções em análise é uma possível venda para a concorrente brasileira Braskem ou a Reliance, a maior empresa privada do setor químico e petrolífero da Índia.
Outra opção seria apostar na melhora do mercado e tentar abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo para capitalizar a empresa, segundo fontes ligadas às companhias. A Quattor deve por volta de R$ 6 bilhões e fatura cerca de R$ 10 bilhões por ano. As negociações com a Braskem foram reveladas na sexta-feira à noite (21/08) pelo portal da revista Exame.
Entre as alternativas, a que mais avançou foi a conversa com a Braskem. Mas a negociação enfrenta obstáculos de mercado e de legislação. Para viabilizar a união com a Braskem, a Quattor teria de receber um aporte bilionário da Petrobrás. Hoje, a Petrobrás é sócia minoritária da Quattor, com cerca de 40% do capital, tendo a família Geyer, do Grupo Unipar, como sócia majoritária, com 60%. A Petrobrás também é sócia da Braskem, com aproximadamente 30% do capital.
Ao fazer o aporte bilionário na Quattor e se unir à Braskem, a Petrobrás provavelmente viraria controladora de um gigante petroquímico, um dos cinco maiores grupos do Brasil, com porte parecido com o da mineradora Vale. Seria a reestatização do setor, que atrairia muita oposição política. A opção de perder o controle da Braskem também não é bem vista pelo Grupo Odebrecht, hoje sócio majoritário da Braskem. Por fim, a união de Quattor e Braskem seria, certamente, alvo de queixas de domínio de mercado, a ser julgada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A Petrobrás está tomando a iniciativa de buscar uma solução para a Quattor. A empresa, segundo fontes ligadas ao negócio, procurou companhias petroquímicas da Índia e da China. Iniciou conversas com a indiana Reliance, mas até agora não surgiu nenhuma proposta concreta. A opção preferida dos controladores da Quattor, segundo fontes ligadas à empresa, seria torcer pela melhora de mercado e venda de ações na bolsa para capitalização da empresa. A família Geyer, porém, está aberta a ouvir propostas.
Segundo fontes ligadas à empresa, a família não tem pressa em negociar. As primeiras parcelas da dívida bilionária só começam a vencer em 2011 e o mercado começou a melhorar. No primeiro trimestre, a Quattor teve prejuízo de mais de R$ 300 milhões. No segundo trimestre, as vendas melhoraram e o lucro voltou.
A Quattor foi criada em 2007, em meio ao processo de reestruturação do setor. Depois de comprar a Suzano Petroquímica, a Petrobrás se associou à Unipar. A negociação entre a Unipar e a Petrobrás envolveu muita polêmica. Os críticos diziam que a Petrobrás estava reestatizando o setor. A Petrobrás acabou aceitando virar minoritária da Quattor. Agora se sabe que a opção de ser minoritário talvez seja por pouco tempo. Procurada, a Petrobrás não quis se pronunciar.
O que é a Braskem
- História: Criada em 2002 a partir da união de empresas dos grupos Odebrecht e Mariani, com a petroquímica Copene, da Bahia
- Tamanho: Líder na produção de resinas termoplásticas na América Latina; teve faturamento de R$ 18 milhões em 2008 e emprega 5 mil funcionários
- Consolidação: Nos últimos anos, comprou ativos petroquímicos da Ipiranga e a concorrente Triunfo
- Mercado: Tem participação 51% do mercado nacional de resinas; as exportações respondem por 31% da receita líquida
O que é a Quattor
- História: Criada em 2008, a partir da união da Unipar e Petrobrás, que detêm 60% e 40% do capital da empresa, respectivamente
- Tamanho: Entre as 20 maiores companhias do País, tem receita líquida anual de R$ 7,4 bilhões e 1,7 mil colaboradores
- Investimento: Nasceu com um plano de investimentos de R$ 2,5 bilhões, para produção de 4,6 milhões de toneladas/ano de matéria-prima por ano
- Mercado: Responde por 40% da oferta nacional de produtos petroquímicos e termoplásticos
(Por Marianna Aragão e Irany Tereza, O Estado de S. Paulo, 23/08/2009)