ONGs, instituições da sociedade civil e políticos de Ilhabela se mobilizam para tentar conter aumento do terminal em São Sebastião. Grupo pretende custear estudo paralelo do impacto ambiental que o projeto pode provocar; preocupação também é com o turismo
O embate entre moradores e donos de casas em Ilhabela contra a ampliação do porto de São Sebastião, ou ao menos mudanças no projeto, reúne ONGs, entidades da sociedade civil e grupos políticos. Há duas semanas, cerca de 250 pessoas participaram de exposição sobre os impactos no Instituto Oceanográfico da USP, em São Paulo. Uma das decisões foi coletar dinheiro para elaborar um estudo de impacto ambiental paralelo ao que será elaborado pelo governo para licenciar a ampliação.
"O centro de São Sebastião vai se tornar uma cidade de fundo de armazém. Querem [governo] fazer um rolo compressor", diz o advogado e mestre em direito ambiental Eduardo Hypolito do Rego, do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). Na ilha, além da barreira na vista para o canal, há o temor de muito mais prejuízos do que ganhos, afirma o prefeito Toninho Colucci (PPS).
"O governador José Serra precisa ouvir os apelos dos moradores. Alguém falou do nosso posicionamento a esse projeto do porto e ele me questionou da seguinte forma: "Você está escutando muito os xiitas da USP, precisamos conversar a respeito do porto", afirma o prefeito. Colucci diz que, como a rodovia dos Tamoios será o trajeto dos cerca de 2.000 caminhões que devem chegar por dia ao porto, turistas podem preferir vias e destinos mais tranquilos.
Até o final da semana, havia cerca de 2.300 adesões no abaixo-assinado organizado contra a ampliação do porto, segundo Georges Grego, do Instituto Ilhabela Sustentável. Na avaliação de Grego, além do impacto visual, o tráfego de caminhões na região e o aumento da poluição das praias da cidade devido à presença de um número maior de navios devem afastar os turistas. Também será afetada, prevê Grego, a Semana de Vela de Ilhabela, competição internacional realizada no canal de São Sebastião. "A semana vai ser prejudicada pelo aumento da circulação de grandes navios."
Canal é ideal para prática de esporte náutico
Uma característica morfológica pouco comum faz do canal de São Sebastião um dos melhores locais do país para esportes náuticos e, ao mesmo tempo, ótimo local para a atividade portuária. Em formato de funil e confinado pelo morro de Ilhabela e a serra do Mar, o vento é canalizado e direcionado entre São Sebastião e Ilhabela.
Por outras razões, como a função de quebra-mar de Ilhabela (na verdade, a ilha se chama São Sebastião), o local apresenta, na maior parte do tempo, somente pequenas ondulações. Esse conjunto faz com que o canal fique livre de ressacas, que destroem regiões costeiras bem próximas, como a praia de Massaguaçu, na vizinha Caraguatatuba.
Embora o vento seja favorável aos barcos à vela, quando atinge velocidades maiores, obriga a Dersa, empresa do Estado, a suspender as operações da balsa. Embarcações de grande porte não são afetadas pela marola. E, devido à profundidade do canal, entram no porto sem risco de encalhes.
(Por José Ernesto Credendio e Fábio Amato, com colaboração de Moacyr Lopes Junior, Folha de S. Paulo, 23/08/2009)