O velório do corpo do sem-terra Elton Brum da Silva, de 44 anos, foi marcado por um protesto nas ruas de São Gabriel. Centenas de pessoas, ligadas a movimentos sociais, compareceram na manhã de sábado (22/08) à capela 3 da Santa Casa de Caridade, em São Gabriel. O caixão ficou coberto pelas bandeiras do Brasil, MST e Via Campesina. Na pia de água benta, a mesma foi substituída por terra na qual todos se benziam.
Na saída do cortejo fúnebre para Canguçu, onde o corpo seria sepultado, a terra foi entregue enrolada em uma bandeira à família da vítima, baleado nas costas por uma espingarda calibre 12. A suspeita do disparo recai sobre algum policial militar com esta arma na desocupação da fazenda Southall, na sexta-feira.
Antes da partida do cortejo fúnebre, o frei Sérgio Goergen realizou um ato ecumênico ao lado do hospital. Cânticos religiosos foram entoados pelos participantes. Faixas pedindo justiça e reforma agrária foram estendidas. Já no final da manhã de sábado, um ato público de protesto ocorreu na praça central de São Gabriel, com a presença dos sem-terra, representantes de organizações dos movimentos populares, políticos e defensores dos direitos humanos. Durante o ato, o motorista de uma caminhonete discutiu com um sem-terra e um outro manifestante quase foi atropelado por um automóvel. Ao invés da BM, a Polícia Civil fez a segurança no local.
O ouvidor do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Gercino Silva, mantém encontros com autoridades da segurança pública e integrantes dos movimentos, antes de entregar um relatório da situação ao ministro da Reforma Agrária, Guilherme Cassel. Ele reafirmou que o RS é um dos únicos estados que não aderiu às normas de desapropriação do manual da Ouvidoria Agrária Nacional, assinado em abril de 2008, o que 'poderia ter evitado o incidente'.
Já o superintendente regional do Incra, Mozar Artur Dietrich, disse que já foram assentadas 1,7 mil famílias de sem-terra desde 2007, de uma meta de 2 mil. Ele ressaltou que o Rio Grande do Sul está cumprindo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público em relação aos assentamentos. Lembrou que a desapropriação de terras para o processo de reforma agrária é um processo lento e burocrático.
(Correio do Povo, 23/08/2009)