Agência ambiental britânica garante uma investigação séria sobre o envio ilegal dos resíduos ao Brasil, no início deste ano
Em mais um capítulo do caso que provocou indignação no Brasil, 71 dos 89 contêineres de lixo tóxico exportados ao país pela Grã-Bretanha chegaram de volta, na sexta-feira (21/08), ao porto britânico de Felixstowe, a bordo do navio MSC Serena. Os demais recipientes ainda estão a caminho da nação europeia – a previsão é de que cheguem na semana que vem. Os resíduos foram enviados ao Brasil classificados incorretamente como plástico reciclável. Continham, no entanto, 1,7 mil toneladas de lixo hospitalar, incluindo baterias, preservativos e seringas usadas, remédios fora do prazo de validade e fraldas sujas.
Os contêineres foram distribuídos nos portos de Santos e de Rio Grande e em uma estação alfandegária de Caxias do Sul. O lixo foi encontrado no Brasil em junho, mas começou a ser importado no início do ano. O embarque das 740 toneladas de resíduos que chegaram ao porto riograndino entre fevereiro e maio foi realizado em 2 de agosto, no navio MSC Oriane, sob a supervisão do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
A Agência Britânica de Crimes Ambientais afirmou que vai desinfetar os contêineres – com 1,4 mil toneladas de lixo – antes de examinar seu conteúdo. Assim que forem recolhidas provas suficientes, uma empresa especialmente designada vai realizar a destruição dos resíduos. O assunto foi abordado ontem pela imprensa britânica: os sites dos jornais The Guardian, The Times e até o sensacionalista Daily Mail, por exemplo, noticiaram a chegada do navio e o andamento das investigações, já iniciadas pela agência.
– De acordo com nossos colegas do Brasil, o lixo exportado era tóxico. Estamos agindo com firmeza para trazer tudo de volta. Obviamente, a agência trata a questão com muita seriedade – disse ao Guardian o chefe da agência, Andrew Higham.
Três homens foram presos no mês passado em Swindon, 160 quilômetros a oeste de Londres, em conexão com o caso. A polícia do condado de Wiltshire informou que eles ainda não foram acusados e que estão soltos sob fiança até outubro. Higham ressaltou, ainda, que a Grã-Bretanha se comprometeu a coibir a venda de lixo clandestino. É ilegal exportar resíduos para armazenagem, mas os detritos podem ser enviados ao Exterior para reciclagem. A pena máxima para o crime é uma multa sem limite definido ou uma sentença superior a dois anos de prisão.
Segundo o Times, a investigação do caso engloba agora mais duas empresas, além da Worldwide Biorecyclables e a UK Multiplas Recycling. A Edwards Recycling, de Essex, e a AWM Recycling, em West Midlands, também estariam sob suspeita.
– Não vamos permitir que nosso lixo seja jogado em países em desenvolvimento – observou Higham.
Entenda o caso
- No dia 8 de julho, a Polícia Federal de Rio Grande abriu inquérito para apurar a situação de 64 contêineres, embarcados em Felixstowe, na Grã-Bretanha, e que deveriam conter polímeros de etileno (aparas de plástico para reciclagem), mas estavam cheios de lixo urbano.
- Trazida entre fevereiro e maio, em diferentes navios, a carga foi entregue no porto paulista de Santos e no superporto de Rio Grande.
- Antes da descoberta do conteúdo, oito contêineres haviam sido transportados, de carreta, de Rio Grande para o porto seco de Caxias do Sul, ao lado de Bento Gonçalves.
(Zerohora.com.br, 22/08/2009)