Não há justificativa aceitável para a morte de um sem-terra pela Brigada Militar, durante cumprimento de uma ordem judicial de desocupação da Fazenda Southall. O uso de arma de fogo em uma ação de desocupação potencializa o risco de um desfecho com mortos e feridos. Pelo clima de confronto que se estabeleceu nas relações da BM com o MST, até que demorou para morrer alguém.
A ação desastrada da Brigada Militar produziu um mártir para o MST e fez o Rio Grande do Sul virar notícia nacional, mais uma vez, por um fato negativo. Caiu no colo da governadora Yeda Crusius o cadáver de Elton Brum da Silva.
Ter de conviver com o fantasma de um sem-terra morto em conflito com as forças policiais costuma ser um dos maiores temores de quem governa o Rio Grande do Sul. Antônio Britto tinha tanto medo de um incidente grave em desocupações de áreas invadidas, que seu secretário da Segurança, José Eichenberg, retardava ao máximo o cumprimento das ordens de desocupação, na tentativa de ganhar tempo para uma saída negociada. Seu sucessor, Olívio Dutra, não teve problemas porque o governo tinha boa interlocução com o MST e fazia qualquer coisa para evitar o confronto. Afinado com o MST, Olívio terminou o governo odiado pelos produtores rurais.
No governo de Germano Rigotto, a tática era apelar para a liderança do deputado Frei Sérgio Görgen (PT) para esgotar todas as possibilidades de negociação antes de desocupar à força uma área invadida. Na hora de cumprir a ordem judicial, o governador mandava filmar toda a ação da Brigada, para em caso de incidente saber exatamente o que aconteceu.
No atual governo, as relações sempre foram tensas, por conta da política linha-dura do coronel Paulo Roberto Mendes, o que valeu à governadora o apoio dos produtores rurais e o repúdio do MST. Nesta sexta (21/08), as imagens de colonos ajoelhados no chão com o rosto no barro ou andando em fila indiana com as mãos na nuca provocaram indignação de entidades de direitos humanos, da mesma forma como as depredações promovidas pelo MST nas fazendas invadidas revoltam os que condenam as invasões.
(Por Rosane de Oliveira, Zero Hora, 22/08/2009)