Direto de minhas fontes na imprensa:
Orientações específicas da direção do jornal O Globo para a cobertura da campanha de Marina Silva: mantê-la presa ao tema ambiental, destacar todas as declarações que a contraponham a Lula e a Dilma, apresentá-la como uma candidata idealista, dar destaque a declarações de militantes e aprofundar a ruptura com o PT.
- Acaba de ser criada a "Editoria Marina Silva" - afirma uma fonte.
Já aconteceram duas reuniões informais -na quarta-feira (19/08) e ontem- das quais os editores saíram dando dicas, o que evidencia tratar-se de um plano que vem de cima. Querem inflar a candidatura dela, mas marcando-a como alguém fora da realidade. Mais ou menos o mesmo que fizeram com Fernando Gabeira na eleição do Rio. Também fizeram com Carlos Minc, chamando atenção para os coletes dele e esquecendo a questão ambiental.
No caso de Marina Silva, provavelmente vão dar destaque à questão ambiental para evitar levar o debate para o tema do modelo econômico. No tema ambiental, tem saído várias reportagens nos jornais paulistas elogiando José Serra nessa questão, o que certamente equivale a uma vacina anti-Marina Silva. A Justiça bloqueou as obras do Rodoanel em São Paulo por conta de irregularidade nos pagamentos, mas existem ações por questões ambientais obstruindo o projeto e os jornais omitem.
A ex-seringueira e ex-ministra do Meio Ambiente hoje já é manchete do Globo: "Marina diz que Lula é insensível a causas sociais". A Rede Globo sabe o que está fazendo. É muito fácil marcar Marina Silva como uma mulher idealista e fora da realidade. Basta pinçar umas frases, como costumam fazer as editorias de política, ou entrevistar alguns dos assessores dela, ou mesmo o Fernando Gabeira.
Destaco agora a análise do jornalista Luciano Martins Costa sobre as pragas do ofício em "O jornalismo declaratório" - a íntegra está no Observatório da Imprensa:
"Marina entra no jogo
A senadora Marina Silva ganhou subitamente, como possível candidata à Presidência da República, uma exposição que a imprensa nunca lhe proporcionou nos cinco anos em que ocupou o Ministério do Meio Ambiente. Ela é o tema da manchete do Globo nesta sexta-feira. Mas não por conta de um plano de governo ou de uma entrevista na qual eventualmente explica por que considera importante disputar a sucessão do presidente Lula da Silva. Marina é capa do Globo porque declarou – ou teria declarado – que o atual governo é insensível à causas sociais.
Como em todos os casos de jornalismo declaratório, seria arriscado analisar uma frase descatada sem conhecer o contexto em que foi proferida, mas pode-se arquivar o texto na pasta da campanha eleitoral de 2010.
Como se sabe, declarações de campanha eleitoral têm valor muito relativo: elas valem apenas no contexto da campanha. Observe-se, por exemplo, as coleções de frases que os jornais resgatam anos depois que foram ditas, em contextos políticos muito diferentes, para tentar convencer o leitor de que tal ou qual declarante não tem coerência.
Embalada na oportunidade de ocupar espaço na imprensa por conta de sua saída do Partido dos Trabalhadores, Marina Silva trata de aproveitar a oportunidade. Mas deve saber que suas frases serão pinçadas daqui a um tempo e expostas aleatoriamente, ao sabor das intenções dos editores.
Jogo duro
Essa é uma das grandes armadilhas nas relações de personalidades com a imprensa, e muito especialmente no caso dos protagonistas da cena política. Uma frase dita hoje para justificar um rompimento pode ser usada daqui a alguns meses para criticar uma aliança.
Se Marina Silva quer conduzir uma campanha diferente do que temos visto por aqui, precisa começar a selecionar muito bem o que vai dizer na frente de jornalistas ou de interlocutores com acesso à imprensa. O jogo em que ela está entrando admite caneladas e os árbitros são ao mesmo tempo chefes de torcida organizada."
(Por Altino Machado, Blog do Altino, 21/08/2009)