Na última terça (18/08), por volta das 13h, retornou a seu habitat a 1ª harpia do mundo a ser reintroduzida na natureza, após viver 12 anos em cativeiro, em um recinto construído especialmente para ela, na Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Estação Veracel, em Porto Seguro/BA.
Batizada como Pakâyhierú* (pássaro livre), a ave encontrou a liberdade cerca de seis minutos depois que a caixa onde era transportada foi aberta. “Estou feliz porque ela alçou vôo”, disse, emocionado, Alexandro Ribeiro Dias, da Equilíbrio Proteção Florestal, empresa parceira no Projeto Harpia na Mata Atlântica. Dias teve o privilégio de abrir a caixa. Durante seis anos, ele foi o único responsável pelo trato e alimentação da harpia.
A ave se tornou a segunda harpia adulta a ser monitorada via satélite no Brasil. O equipamento foi instalado no último dia 16 pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, José Eduardo Mantovani. Para avaliar o impacto do aparelho sobre a ave, há um ano foi instalado um protótipo com peso igual ao do equipamento que está sendo utilizando.
De acordo com a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica – Inpa e coordenadora do Projeto Harpia na Mata Atlântica, Tânia Sanaiotti, o protótipo foi instalado para a ave se adaptar ao peso do equipamento (cerca de 125 gramas) e para avaliar possíveis danos. “A mochila que carrega o rádio-transmissor não causou danos à ave. Isso nunca tinha sido avaliado por outro pesquisador no mundo”, comemorou Sanaiotti.
No domingo (16/08), Sanaiotti uniu-se aos pesquisadores da SOS Falconiformes, Eduardo Pio Mendes de Carvalho Filho, e da Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina - ABFPar, Jorge Lisboa, e, também, ao tratador da ave, Alexandro Ribeiro Dias, todos parceiros no Projeto Harpia na Mata Atlântica, para fazer a última avaliação da ave antes da soltura. A harpia, uma fêmea da espécie, foi pesada e medida, apresentando 2,05 metros de envergadura de asa.
A ave foi reintroduzida em uma Área de Alto Valor de Conservação, próxima ao Parque Nacional do Pau-Brasil, um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do extremo sul da Bahia. Nos próximos 15 dias, a harpia será monitorada em campo para que seja avaliada sua adaptação à vida livre.
De acordo com Sanaiotti, a área foi escolhida levando-se em consideração que se trata de uma área de mata nativa, com 85% de floresta ombrófila densa em estágio avançado de regeneração, contígua ao parque e a cerca de dois quilômetros de distância da fazenda onde a ave foi resgatada em 1997.
A harpia foi encontrada pelos proprietários da Fazenda Lembrança e da Fazenda Itaipé, que a entregaram ao Ibama. Os fiscais levaram a ave para a Estação Veracel, onde, desde 2004, ela é objeto de estudos e esforços de uma equipe de pesquisadores para reintegrá-la à natureza. Esse trabalho recebeu o nome de Projeto Harpia na Mata Atlântica.
A decisão pela soltura foi tomada em 2004, quando a pesquisadora Tânia Sanaiotti, que já desenvolvia o Projeto Gavião-Real, na Amazônia, foi convidada a avaliar a harpia, que era mantida em cativeiro. “Avaliei que se tratava de uma ave já adulta no momento da captura, que já tinha aprendido a sobreviver sozinha nas matas. Com certeza, ela não perdeu esse instinto selvagem”, disse a pesquisadora.
Além de todo o trabalho desenvolvido para a reabilitação da harpia em seu habitat, o Projeto Harpia na Mata Atlântica fez a avaliação das matas existentes na região, para ter a garantia de que a ave encontraria as condições necessárias para a sua sobrevivência. O registro da existência de outras harpias de vida livre nas áreas monitoradas foi primordial para a decisão da soltura.
O Projeto Harpia na Mata Atlântica é financiado pela Veracel Celulose S.A. e desenvolvido de forma integrada pelos pesquisadores do Inpa, Inpe, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, Ibama, ABFPar, SOS Falconiformes, Crax e RPPN Estação Veracel.
*Pakâyhierú significa “pássaro livre” em patxohã, língua oficial da comunidade indígena Pataxó. Esse é o nome da primeira harpia a ser devolvida à natureza depois de 12 anos em cativeiro, escolhido pelo aluno David dos Santos, da Escola Indígena Pataxó de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália/BA. De Daniel Conceição Bonfim, aluno da Escola Rural Santo Antônio, em Imbiruçu de Dentro (Porto Seguro, BA), veio o slogan “Natureza viva!”. Ambos participaram do trabalho de educação ambiental realizado com suas comunidades, para que conhecessem essa espécie e contribuíssem para sua preservação.
(Ascom Ibama, 20/08/2009)