Aplaudido de pé por uma plateia de 300 produtores rurais, o arrozeiro Paulo Cesar Quartiero, pivô dos conflitos fundiários na terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, fez nesta quarta (19/08) duras críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa do processo de retirada dos produtores da área na fronteira com a Venezuela.
"O Supremo tem ódio de produtor rural. O viés ideológico e o viés político dos ministros ficou evidente no julgamento que fizeram em Roraima", afirmou, durante debate sobre questões indígenas e fundiárias na Bienal da Agricultura 2009, em Cuiabá. O STF decidiu homologar a reserva em área contínua e rejeitou a permanência de produtores e pecuaristas na Raposa após 30 de abril. "Foi uma conspiração para nos tirar de lá. O Lula não vai a Roraima inaugurar uma ponte com a Guiana por medo de do que fez com nosso povo", atacou.
Em tom de campanha eleitoral, o provável candidato a governador de Roraima afirmou que as feridas do processo estão longe de cicatrizar. "Desmancharam o Estado por inspiração de ONGs e da Igreja Católica e, agora, os índios ainda querem vingança". Animado com o apoio entusiasmado da plateia, Quartiero emendou: "Só perdemos porque dissemos que aceitaríamos a decisão do STF".
Em quase uma hora de discurso, e após mostrar um longo vídeo no qual figura como vítima do processo, Quartiero foi saudado como "um grande brasileiro" pelo general da reserva Luiz Gonzaga Lessa, ex-comandante do Exército na Amazônia. "A população de Roraima não queria a homologação da Raposa em área contínua. O governo e parte dos índios também não queria. E o Exército chegou às raias da insubordinação porque decidiu que não tiraria os brasileiros do Brasil".
Presidente do Clube Militar, Lessa apontou uma "conspiração internacional" criada para apropriar-se de reservas estratégicas minerais, como o urânio, em áreas indígenas da fronteira Norte do Brasil. E criticou a decisão do STF: "O ministro Carlos Ayres Brito é um romântico, fora da realidade. Seu relatório coloca o índio como herói e tudo o mais como vilões. Aliás, os ministros do STF não leram esse relatório e votaram com Ayres Birto".
(Por Mauro Zanatta*, Valor Econômico, 20/08/2009)
* O jornalista viajou a convite da Bienal da Agricultura