Polêmico desde o início, o projeto para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, vem sendo discutido no País desde os anos 70. Inicialmente chamado de Cararaô, o projeto teve de ser rebatizado. Responsável pela mudança do nome, o presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz Lopes, lida com a questão de Belo Monte há mais de 20 anos.
Em 1989, uma foto de Muniz correu o mundo, por registrar o momento em que a índia Caiapó Tuíra encostou um facão em seu rosto durante o 1º Encontro das Nações Indígenas do Xingu. Em maio do ano passado, outro grupo de índios agrediu com golpes de facão um engenheiro da Eletrobrás que dava uma palestra sobre a usina em Altamira (PA).
Agora presidente da Eletrobrás, Muniz pode ver o projeto da usina sair do papel. Se a provável batalha jurídica não atrasar ainda mais os planos do governo, o leilão de concessão do projeto deve acontecer em outubro. A seguir, principais trechos de entrevista ao Estado de S. Paulo.
Estado de S. Paulo - Por que houve a mudança do nome?
José Antônio Muniz Lopes - Em um encontro, os índios disseram que Cararaô era o grito de guerra dos inimigos deles, o que seria uma provocação. Como na região próxima ao local onde será construída a usina há uma travessia do Rio Xingu chamada de Belo Monte, colocamos o nome da travessia no projeto.
O projeto em si passou por mudanças, não?
Muniz - Já com o nome de Belo Monte, foi entregue ao então Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (Dneae) o estudo de viabilidade do primeiro projeto. E alguém percebeu que havia a possibilidade de usar dois igarapés como canais para levar a água para a casa de força. E, com isso, haveria uma grande redução da área alagada. Reduzimos de 1.220 mil quilômetros quadrados para pouco mais de 500 quilômetros quadrados o espelho d?água do reservatório. E é essa alternativa que será colocada para leilão agora.
A potência também mudou.
Muniz - A potência da casa de força principal, que era de 11 mil megawatts (MW), não foi alterada, ficou a mesma. E foi acrescentada uma casa de força complementar, mais próxima da cidade de Altamira, com turbinas bulbo (horizontais). E aí a potência aumentou para 11.300 megawatts.
Quanto custa o projeto da usina?
Muniz - Eu não gosto de falar muito em custo. Vi nos jornais que a EPE (Empresa de Pesquisa Energética, órgão federal de planejamento do setor elétrico) teria calculado algo em torno de R$ 16 bilhões. O que eu costumo dizer é que uma boa usina hidrelétrica é aquela que custa em torno de US$ 1 mil por megawatts instalado. Se for abaixo disso, é uma usina ótima. Acima disso, com custo de até US$ 2 mil por megawatts ainda se tem boas usinas.
O sr. acha que a batalha jurídica e ambiental para leiloar o projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte será tão dura quanto a que antecedeu as licitações dos projetos das usinas do Rio Madeira?
Muniz - Eu espero que as audiências públicas esclareçam as dúvidas. Porque eu considero essa, a melhor usina hidrelétrica do mundo. É o mais importante projeto de curto prazo para o Brasil.
(Estado de S. Paulo / Portal PCH, 17/08/2009)