Experimento mostra que ozônio reage com óleos na epiderme e dá origem a compostos potencialmente irritantes. Presença de um único ser humano em um ambiente fechado faz concentração do poluente cair em até 25%, mostram cientistas
O ozônio que circula em grandes quantidades pelos ambientes fechados, como os dos escritórios paulistanos, pode ser ainda mais irritante para o corpo humano do que se pensava até agora. Cientistas descobriram que o gás, ao reagir com compostos oleosos que existem na própria pele, liberam outros compostos, que são potencialmente perigosos tanto para a pele quanto para os pulmões. Eles podem potencializar sintomas de asma, por exemplo.
A relação entre ozônio e pele humana já era conhecida, mas o experimento apresentado nesta terça (18/08) na revista científica "PNAS" revelou a produção de novas substâncias até então desconhecidas pela ciência. Segundo os cientistas, os compostos estavam sendo subestimados pelas outras técnicas de pesquisa.
No experimento, a dupla de pesquisadores -Armin Wisthaler (Universidade de Innsbruck, Áustria) e Charles Weschler (Universidade Rutgers, EUA)- reproduziu um escritório de 30 metros cúbicos. Dentro dele, havia apenas um único trabalhador, que acabou exposto ao ozônio, injetado na sala pelos sistemas de ventilação, como ocorre no mundo real. Na cidade de São Paulo, o ozônio é um dos principais poluentes da atmosfera. E, por isso, também circular bastante em ambientes fechados.
Após quatro horas, mostraram as medições do estudo, o ozônio na sala teve uma redução de até 25%. Isso porque ele reagiu com substâncias oleosas da pele. Dessas reações é que surgiram alguns tipos novos de substâncias irritantes. O ozônio, que tem efeitos poluentes em baixas altitudes, é fundamental para a vida na Terra em alturas mais elevadas. O gás, por exemplo, barra a chegada de grande parte dos nocivos raios ultravioleta ao solo.
A pesquisa não analisou a relação direta que pode existir de fato entre os compostos produzidos pela reação entre ozônio e pele com eventuais doenças. Mas, em tese, as reações químicas descritas agora são um problema em potencial, dizem os cientistas. Mesmo elas servindo também para reduzir o ozônio no ambiente.
Os resultados da pesquisa não apresentam apenas implicações diretas para o homem. Alguns dos dados obtidos agora poderão ser úteis para o controle do ozônio que circula pelos ambientes externos também. Esse gás é formado principalmente pela poluição que sai dos escapamentos dos carros.
Os compostos oleosos que existem na camada externa da pele humana também estão presentes em vários outros locais. É comum achá-los em superfícies de plantas, na serrapilheira (folhas soltas sobre o solo) e na lâmina d'água do mar. É bem provável, segundo os autores do trabalho, que nesses locais, os óleos também apresentem um papel crucial no balanço do ozônio atmosférico.
(Folha de S. Paulo, 19/08/2009)