A maior companhia de energia da China acertou nesta quarta (19/08) a compra de US$ 41 bilhões em gás natural da Austrália, em uma cerimônia de assinatura do contrato cujo objetivo foi dar um brilho nas relações tensas entre os dois parceiros comerciais. Martin Ferguson, ministro da Energia e dos Recursos da Austrália, esteve em Pequim para a assinatura do contrato de compra, pela PetroChina, de 2,25 milhões de toneladas métricas de gás natural líquido por ano do projeto de Gorgon, da ExxonMobil, localizado ao largo da costa do estado de Western Australia.
Aos preços atuais do gás, o negócio é avaliado em US$ 41 bilhões nos próximos 20 anos e é o maior acordo comercial já feito pela Austrália, segundo informou Ferguson. Mas as principais condições do negócio foram acertadas meses atrás e o momento do anúncio teve claramente a intenção de aliviar as tensões entre a Austrália e seu mais importante parceiro comercial.
O governo australiano informou ontem que a China cancelou uma visita diplomática de alto nível à Austrália no começo do mês, em protesto à concessão de um visto de permanência à líder uighur Rebiya Kadeer, que o governo chinês culpa por instigar tumultos étnicos na província de Xinjiang no mês passado.
As relações sino-australianas também estão abaladas pelo colapso de um grande investimento chinês na mineradora anglo-australiana Rio Tinto, e pela prisão, pela China, de quatro executivos da Rio Tinto, incluindo o cidadão australiano Stern Hu, sob as alegações de suborno e espionagem industrial. A visita de Ferguson a Pequim e o anúncio oficial do acordo com a PetroChina foram determinados para aliviar as tensões crescentes entre os dois países, segundo afirmaram ontem pessoas a par do acordo.
O comércio sino-australiano movimenta cerca de US$ 53 bilhões por ano. "Este acordo é testemunha da força do comércio e das relações de investimentos da Austrália com a China", disse Ferguson em comunicado. "Enquanto a China continua se desenvolvendo como potência industrial e comercial global, a Austrália está comprometida em caminhar junto com ela nesta jornada admirável."
Gorgon é um dos maiores projetos de exploração de gás propostos no mundo. Além do acordo com a ExxonMobil, que controla 25% de Gorgon, a PetroChina tem um acordo antigo com a Royal Dutch Shell, que também controla 25%, para exploração de gás no campo. O grupo petrolífero americano Chevron, que detém 50% e é o operador do campo de Gorgon, ainda precisa aprovar oficialmente o projeto. No entanto, "uma decisão de investimento final" deverá ser tomada em algumas semanas.
Em 2007, a PetroChina assinou o que então foi saudado como o maior contrato de exportação firmado pela Austrália, quando ela chegou a um acordo preliminar com a Woodside Petroleum para a compra de estimados US$ 37 bilhões em gás natural liquefeito da bacia de Browse. A Austrália tem mais de 10 projetos de exploração de gás natural liquefeito em desenvolvimento por alguns dos maiores grupos de energia do mundo. Ferguson anunciou, na semana passada, que a Petronet da Índia assinou um acordo de mais de US$ 20,5 bilhões com a ExxonMobil, para a compra de gás do projeto de Gorgon.
(Por Jamil Anderlini e Peter Smith, Financial Times / Valor Econômico, 19/08/2009)