Começou a ser exibido, nas comunidades quilombolas do Espírito Santo, o documentário “Inventário”. O filme retrata o cotidiano das comunidades negras que vivem no norte capixaba, ressaltando suas tradições, histórias e grupos folclóricos. Ao todo, o filme será mostrado em todas as comunidades quilombolas para aprovação e será lançado em outubro, em Vitória.
Segundo os negros, o trabalho vem sendo bem aceito entre as comunidades, já que resgata a história dos antepassados, ressalta a importância da economia local para a luta e resistência deste povo pela reconquista de suas terras. O filme, que será lançado oficialmente em outubro – ainda sem data – na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), já foi apresentado às comunidades de Linharinho, São Domingos, São Cristóvão e Angelin.
“Todos estão aprovando. Os jovens entram em contato com a tradição que a gente tanto luta pra manter, os mais velhos ressaltam suas lutas, mostramos nosso folclore desde os grupos de Ticumbis ao Rei de Bois, todos estão gostando”, ressaltou Kátia Santos, da Comissão Quilombola do Espírito Santo.
O lançamento oficial do filme coincidirá ainda com a organização política das comunidades em busca de seus direitos aos territórios na região do Sapê do Norte, que abrange os municípios de Conceição da Barra e São Mateus, reforçando a luta dos quilombolas. Repleto de imagens das tradicionais farinheiras do Sapê do Norte, os sonhos dessa comunidade, que possuem mais de oito processos de titulação parados, ressaltam principalmente a forma com que estas comunidades resistiram estes mais de 40 anos de luta por suas terras.
Entre os detalhes do cotidiano das comunidades são retratadas ainda as formas de cultivar a mandioca, as técnicas das farinheiras, a confecção do beiju, dos bolos, gomas e mingaus, que não só sustentam as famílias que vivem ilhadas como são símbolos da resistência sustentada por uma economia que garante a sobrevivência destas famílias há trezentos anos.
O documentário foi produzido pelo Instituto Elimu Professor Cleber Maciel, com fotografia do cineasta Ricardo Sá e pesquisa do antropólogo Osvaldo Martins. Segundo o antropólogo Sandro Sá, o documentário mostra ainda que “a economia não se limita a catar moedas, mas reunir amizades e cantar a vida em festas, causos e embates. Amizades que nomeiam os rios, os santos, os sonhos dos parceiros de ensaio, do desafio da Roda Grande da vida que leva e traz”.
Ao todo, o documentário foi produzido com imagens gravadas nos anos de 2007 a 2009 com recursos do Iphan-ES. Seu lançamento ainda não tem data, mas a previsão é para o início do mês de outubro, no Cine Metrópolis, na Ufes.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 19/08/2009)