O campo de gás de Mexilhão, na Bacia de Santos (SP), deverá entrar em operação em maio do próximo ano com quase dois anos de atraso em relação ao cronograma original. O plano diretor do campo, aprovado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em outubro de 2006, previa início da produção em 2008, alcançando o pico em 2009. Agora, segundo a ANP, a Petrobras, concessionária do campo, apresentará em janeiro de 2010 uma revisão do plano diretor, prevendo o início da produção para maio do mesmo ano.
Quando atingir o pico, Mexilhão produzirá 15 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia (m3/d), metade do limite de importação do gasoduto Bolívia-Brasil. Quando foi descoberto, em abril de 2001, o campo chegou a ser comparado à Bolívia, em alusão às suas características de campo gigante, com reservas estimadas em 420 bilhões de m3. Hoje as reservas são estimadas em 72 bilhões de m3, ainda assim, o maior campo de gás natural do Brasil.
A Petrobras não informou as razões para a mudança do cronograma de Mexilhão, mas a ANP disse que os atrasos nos cronogramas de produção não são incomuns. O primeiro cronograma do campo foi feito em uma conjuntura de escassez de gás natural e de incerteza quanto à continuidade do fornecimento boliviano.
Desde o ano passado, principalmente graças ao regime de chuvas favorável que encheu os reservatórios das hidrelétricas e dispensou geração termelétrica, tem havido folga no abastecimento de gás. A Petrobras chegou reduzir as importações da Bolívia de 30 milhões de m3/d para 24 milhões de m3/d.
Diante da conjuntura de folga, especialistas levantaram a hipótese de que a entrada em produção do campo pudesse estar sendo protelada por falta de demanda. O gerente de implantação de Mexilhão da área de engenharia da Petrobras, Márcio Alencar, disse que não há nenhuma postergação relacionada com o consumo e que as obras e o cronograma, para 2010, estão sendo rigorosamente cumpridos.
Alencar disse que a jaqueta da plataforma de Mexilhão, do tipo fixa, sobre uma lâmina d'água (distância entre a superfície e o fundo do mar) de 172 metros, já está pronta e que os dois módulos operacionais que serão colocados sobre ela estão sendo concluídos para serem transportados para o campo de produção quando começar o verão. A plataforma, contratada por R$ 1,2 bilhão, está sendo construída pelo Estaleiro Mauá (grupo Synergy).
Segundo Alencar, o transporte da plataforma precisa esperar pelo verão porque trata-se de uma operação delicada e as condições do mar devem ser mais favoráveis nessa época do ano. O transporte será feito pela empresa italiana Saipen e vai custar US$ 70 milhões. A plataforma será ligada à unidade de processamento de gás que está sendo construída em Caraguatatuba (SP) por um duto de 170 quilômetros, sendo apenas oito em terra. Alencar disse que a tubulação de 34 polegadas já foi lançada ao mar e que falta fazer seu enterramento e comissionamento (preparação para operar).
A unidade de processamento de Caraguatatuba terá ao longo de 2010 capacidade para 18 milhões de m3/d de gás e sua construção está contratada por R$ 1,4 bilhão. Alencar disse que já há projeto para ampliar sua capacidade de processamento para 27 milhões de m3/d de gás natural. O sistema se completa com um gasoduto de 94 quilômetros ligando Caraguatatuba a Taubaté que, segundo Alencar, também já está com obras em andamento. Além de processar o gás de Mexilhão, a plataforma do campo receberá também a produção de gás associado a petróleo do campo de Uruguá-Tambaú e do projeto piloto do campo de Tupi. No conjunto, eles chegarão a produzir 13 milhões de m3/d de gás.
De acordo com a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras, dirigida por Maria das Graças Foster (ex-secretária de Gás e Energia do Ministério de Minas e Energia), não vai faltar mercado para o gás de Mexilhão. A Petrobras projeta para 2010 uma demanda de 96 milhões de m3/d de gás natural no Brasil, com crescimento de 41,1% sobre a média de 68 milhões de m3/d prevista para este ano.
Segundo as projeções da estatal, somente a demanda para geração termelétrica vai crescer 89%, passando de 19 milhões para 36 milhões de m3/d. O consumo industrial vai aumentar apenas 10%, de 30 milhões para 33 milhões de m3/d, enquanto os demais usos, como residencial e veicular, devem crescer 42%, de 19 milhões este ano para 27 milhões de m3/d em 2010.
(Por Chico Santos, Valor Econômico, 19/08/2009)