Ao que tudo indica, não será por falta de dinheiro que o Brasil deixará de fazer pesquisa de ponta na Antártida. O Proantar (Programa Antártico Brasileiro) acaba de receber R$ 15 milhões só para ciência, a maior verba já aplicada no programa desde sua criação, em 1982. O dinheiro é destinado a um edital que será lançado hoje pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele representa mais de 1.500% de aumento em relação à dotação habitual da pesquisa antártica (R$ 900 mil).
"Agora está proporcional ao nosso PIB", comemora o glaciologista Jefferson Simões, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Até agora, dos países signatários do Tratado da Antártida, o Brasil era um dos que menos investiam em pesquisa polar, em proporção ao Produto Interno Bruto. Em 2007, um levantamento mostrou que, em 23 anos, o Proantar só gastara em ciência R$ 25 milhões -pouco mais do que custou a viagem do ex-astronauta Marcos Pontes ao espaço, em 2006.
Com a Antártida ocupando um lugar cada vez maior na agenda científica global, graças às mudanças climáticas, essa falta de financiamento virou um problema. O Proantar já tivera, em 2008, uma verba sem precedentes de R$ 10 milhões. Os cientistas temiam pela continuidade do financiamento.
Pelo menos para este ano não haverá problema. Um grupo formado em 2007 e autointitulado Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro conseguiu os R$ 15 milhões, por meio de emendas parlamentares. Desse total, R$ 12 milhões serão aplicados a pesquisas em conjunto com outros países da América do Sul. O restante será para o monitoramento de impactos de atividades humanas na Antártida.
O edital inaugura a experiência do "programa antártico sul-americano", ideia lançada no ano passado. O objetivo é que países do continente possam aproveitar a estrutura logística e financeira uns dos outros e fazer pesquisa em cooperação. Além da verba recorde para ciência, a logística das operações antárticas, sob encargo da Marinha, recebeu R$ 7 milhões. No fim deste ano o Brasil estreia seu novo navio polar, o Almirante Maximiano.
(Folha de S. Paulo, 18/08/2009)