Carros e caminhões ajudam a formar ozônio; 1 em cada 7 cidades sofre consequências da alta concentração do gás
Mais da metade dos paulistas (seis em cada dez, aproximadamente) vive em cidades saturadas por ozônio (O3), um dos poluentes mais nocivos à saúde, resultante da mistura de três fatores: luz solar, baixa umidade e fumaça preta dos veículos. O levantamento foi feito pelo Estado, cruzando dados de um relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) divulgado recentemente. Os resultados mostram que 94 municípios estão em situação alarmante e a mancha de poluição cobre até o interior.
A condição crítica para ozônio foi constatada não apenas na Grande São Paulo, como ao redor das áreas de São José dos Campos, Alto Tietê, Jundiaí, Piracicaba e Baixada Santista, incluindo municípios de pequeno porte como Pirapora do Bom Jesus e Paraibuna. "São Paulo é um Estado peculiar porque, quando falamos em interior, não estamos nos referindo a cidadezinhas, e sim a grandes núcleos urbanos", afirma Rudolf de Noronha, coordenador de Programas de Qualidade do Ar do Ministério do Meio Ambiente. "Até cidades que não têm uma frota tão grande acabam afetadas pela poluição veicular, tanto por causa da mobilidade de pessoas quanto pela ação dos ventos, que carregam os poluentes."
O ozônio é formado pela combinação dos gases hidrocarbonetos (HC) e óxidos de nitrogênio (NOx). Apesar das queimas de cana de açúcar e das indústrias serem consideradas importantes aliadas na formação de ozônio em regiões interioranas, lembra a Cetesb, as informações disponíveis sobre HC e NOx atestam que são os carros, motos e caminhões que respondem por mais da metade - em alguns casos 70% - da emissão.
A responsabilidade dos veículos automotores pode ser medida pelo aumento da frota em alguns locais. Os dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostram que nas regiões de Campinas, São José dos Campos, Piracicaba e Itu, todas afetadas pela densidade nociva de ozônio, o crescimento no número de automóveis foi ainda mais expressivo do que na própria capital. Enquanto a frota paulistana aumentou 7,1% entre 2007 e 2008, nessas outras cidades a média de aumento foi acima de 8,3% (em Itu, o acréscimo foi de 9,7%).
A Cetesb classifica como áreas com saturação séria ou severa de ozônio aquelas que nos últimos três anos tiveram concentrações máximas que superaram 200 mg por metro cúbico. Estão incluídos nessa categoria um em cada sete municípios de São Paulo. O médico Paulo Afonso de André - que já estudou os efeitos da poluição e do ozônio fora do eixo de São Paulo - ressalta que, apesar da porcentagem de cidades afetadas parecer pequena (14,57%), são esses locais que concentram o maior número de habitantes. Pelas estatísticas, 63% da população está nesses lugares. "Isso significa que são pessoas mais sujeitas a casos de câncer, envelhecimento precoce do pulmão e doenças respiratórias", alerta o coordenador do Laboratório de Poluição da USP, Paulo Saldiva.
(Por Fernanda Aranda, O Estado de S. Paulo, 18/08/2009)