Com conteúdo defasado no debate ambiental, legenda ainda busca espaço no 1.º escalão da política brasileira
Aos 23 anos, o Partido Verde ainda busca uma identidade. A filiação da senadora Marina Silva (PT-AC) será o caminho para o partido achar rumo e espaço no primeiro escalão da política brasileira. É a chamada "refundação", segundo palavras da própria Marina e de lideranças do PV. "Seria a discussão da tradução, do ponto de vista prático, da sustentabilidade", diz a senadora.
Com um conteúdo programático defasado, o Partido Verde ficou para trás na discussão ambiental. É o "primo pobre" entre coirmãos dos outros países. Viveu nos últimos anos a reboque de celebridades, com o cantor Gilberto Gil - que foi ministro da Cultura no governo Lula - e o deputado Fernando Gabeira (RJ).
O PV brasileiro está longe da influência que as legendas da bandeira verde exercem em outras democracias. No Parlamento Europeu, o Partido Verde é a quarta bancada. É também voz importante no Parlamento e no governo da Alemanha. No Brasil, é apenas a décima bancada na Câmara dos Deputados, com 14 parlamentares. Obteve somente 3,6% dos votos válidos em 2006. Quem lidera a bancada é o deputado Sarney Filho (MA), filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O parlamentar foi um dos responsáveis pelo convite a Marina Silva.
O PV não ocupa cadeira no Senado. Comanda apenas uma prefeitura de capital, a de Natal, com Micarla de Souza. Ela é aliada do DEM no Estado, partido opositor ao também aliado do PV, mas no plano federal -, governo Lula. Dois integrantes do PV são ministros: Carlos Minc, no Meio Ambiente, e Juca Ferreira, na Cultura.
A consolidação do PV na política nacional passa, principalmente, por mudanças programáticas para "reisignificar" o partido, segundo declarações de Marina Silva ao falar de sua filiação à legenda. Mudar, avaliam outras lideranças, é atualizar o programa elaborado no começo dos anos 90. Substituir a bandeira da ecologia pela do desenvolvimento sustentável. Inserir, por exemplo, uma discussão partidária sobre mudanças climáticas e um novo modelo de emissão de carbono. "É o momento para o PV se consolidar, encontrar sua verdadeira vocação e se afirmar como partido programático", diz Alfredo Sirkis, vereador no Rio e fundador do PV. "O programa do PV está desatualizado. Precisamos reformulá-lo e também preparar um projeto de governo para os próximos cinco anos."
Para Fernando Gabeira, o PV precisa também abrir o leque da discussão, além do mundo socioambiental. É preciso, segundo ele, falar de segurança pública, política externa e direitos humanos. "A questão ambiental tem peso, mas a campanha não será monotemática", afirma.
O PV sofrerá um problema comum aos pequenos partidos: falta de tempo na TV e no rádio para abrir caminho para essa diversificação de temas. Uma eventual candidatura de Marina Silva ao Palácio do Planalto não significa mais espaço gratuito de campanha. Na melhor das hipóteses, numa disputa com Dilma Rousseff (PT) e um dos governadores tucanos José Serra ou Aécio Neves, Marina teria apenas três minutos num bloco diário de 25 minutos de propaganda.
(Por Leandro Colon, O Estado de S. Paulo, 17/08/2009)