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mst assentamentos reforma agrária agricultura familiar
2009-08-17

Os pais de Itamar de Souza – um dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estão acampados em Brasília – comemoraram muito o financiamento que haviam conseguido em um banco, no início dos anos 80, para plantar grãos nos poucos hectares de terra que possuíam, em Santa Catarina. Mal sabiam que, com os dois anos seguidos de seca que os aguardavam, o que parecia ser a solução para a falta de condições de investimento no plantio seria, na verdade, o motivo da perda de sua pequena propriedade, vendida para quitar o financiamento.

“A alternativa foi tentar a vida na cidade, onde ainda criança comecei a trabalhar em uma madeireira”, lembra Itamar. “Eu não tinha experiência com agricultura, apesar dos meus pais terem trabalhado tanto tempo na terra. Foi por causa do MST que conseguimos voltar para a atividade rural”, completa o agricultor, que há 20 anos está no MST.

Itamar, de 34 anos, vive no assentamento de Anita Garibaldi (SC). É por causa da história de sua família, que ele tem na ponta da língua um estoque de argumentações em defesa de melhores condições para o financiamento agrícola dos pequenos e médios produtores. “Somos responsáveis por 95% da produtividade [daquilo que chega à mesa do brasileiro]. No entanto o dinheiro destinado para pequenos e médios produtores é de apenas R$ 15 bilhões, enquanto o dos grandes [produtores], que plantam principalmente para o mercado externo, é de R$ 45 bilhões. É preciso reverter esse quadro”, afirmou.

“Há tantas histórias iguais a essa em nosso movimento... E, por incrível que pareça, a gente ainda ouve muitas premissas falsas, de que há pessoas no MST que sequer são do campo. Aqui, mesmo quem é urbano tem origem rural, em consequência do êxodo ocorrido nos anos 70. Para eles, o MST é a única possibilidade de retorno a suas origens”, argumenta Maria Mello, uma jornalista que desde os tempos de estudante acompanha e ajuda o MST no contato com os veículos de comunicação.

Sob influência do pai, que fazia parte de um sindicato de trabalhadores rurais, Itamar começou sua história no MST. “A gente sabia o que é a terra, mas não conhecia o tamanho do desafio para consegui-la”, lembra. “Foram muitos conflitos com fazendeiros e capangas, no início da ocupação. Eles acabaram se unindo e colocaram muita pressão para que desocupássemos as terras, mas nossa organização se fortaleceu e acabamos desestimulando eles. Isso durou cerca de cinco anos”, completou.

Itamar admite que, atualmente, vive uma situação mais privilegiada do que a da grande maioria dos trabalhadores ligados ao movimento. “Assim como nós conquistamos nosso espaço e agora lutamos para melhorá-lo, principalmente em termos de infraestrutura, lutamos também por justiça social para quem está em situação parecida com a nossa de tempos atrás”, disse.

“É claro que a gente sempre vai querer mais, como qualquer outro segmento da sociedade”, admite. “Mas é uma situação diferenciada. Até porque somos nós [pequenos e médios produtores] os responsáveis pela absoluta maioria dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros”, afirmou o agricultor, casado há 12 anos e pai de quatro filhos. Itamar é um dos acampados nas proximidades do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para cobrar dos governos federal e estaduais medidas em favor da reforma agrária no país.

(Por Pedro Peduzzi, com edição de Aécio Amado, Agência Brasil, 16/08/2009)


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