Opinião é de secretário de convenção da ONU, após nova rodada de discussões
Se a atmosfera geral era de pessimismo com o término, sexta (14/08), de uma reunião diplomática destinada a avançar no combate ao aquecimento global, a questão das florestas parece ter avançado -ao menos no que diz respeito à reorganização de um texto sobre o desmatamento evitado. "Há muito mais consenso nas discussões sobre o desmatamento evitado do que sobre outras questões discutidas aqui", disse Federica Bietta, vice-diretora da Coalizão de Florestas Tropicais, resumindo a semana de negociações no âmbito da Convenção do Clima da ONU em Bonn (Alemanha).
Segundo Bietta, cuja organização defende a inclusão do chamado Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) no mercado de carbono, há grande apoio para uma implementação de ações nessa área em três fases: um aumento dos mecanismos de medição em países com florestas tropicais, o desenvolvimento de projetos-modelo de engenharia florestal e o acesso dos países a mercados para financiar projetos. Porém, segundo Carlos Rittl, do WWF Brasil, foi reintroduzido um parágrafo no texto dizendo que as reduções de desmatamento não poderiam ser abatidas das metas de redução de emissões dos países ricos -uma demanda do Brasil. A versão final do texto começará a ser negociada na Tailândia, no dia 28 de Setembro.
A intenção da reunião de Bonn era limpar o texto de 200 páginas que contém as propostas de 190 países para negociar o segundo período do Protocolo de Kyoto, que começa em 2013. A versão final deve ser adotada em dezembro, na conferência de Copenhague.
O avanço lento na definição das propostas frustrou o Secretário-Executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer. "Temos 15 dias de negociação até Copenhague. Apesar do progresso alcançado, não vamos conseguir se continuarmos nesse ritmo. Estou ouvindo muitos falando que podemos adiar um acordo, que podemos discutir ainda no ano que vem. É o caminho certo para um desastre global", afirmou. Segundo De Boer, as propostas dos países desenvolvidos não são suficientemente ambiciosas. A União Europeia também criticou a lentidão do processo e as reduções tímidas propostas pelos ricos. Por outro lado, também pediu que os países mais pobres quantificassem suas sugestões.
Também os EUA colocaram exigências para os países em desenvolvimento. "Queremos que eles se comprometam com ações. O Brasil está propondo a olhar como reduzir atividades florestais que causam emissões. Mas gostaríamos de vê-las quantificadas", disse Jonathan Pershing, líder da delegação americana. O Brasil disse ter ficado surpreso com a cobrança, que não teria sido mencionada nos círculos diplomáticos. Os EUA querem cortar suas emissões para níveis de 1990 em 2020, e em 80% até 2050, uma meta considerada fraca. E sua proposta em Copenhague, segundo Pershing, vai depender da aprovação de um projeto de lei de corte de emissões que circula no Congresso. "Queremos negociar com uma proposta coerente com a nossa política doméstica para que possamos fazer parte do acordo", disse o americano. A aprovação ou não da lei afetará a posição dos EUA em Copenhague, mas não deverá impedir os Estados Unidos de fecharem um acordo.
(Por Renate Krieger, Folha de S. Paulo, 15/08/2009)