O provável lançamento da candidatura da senadora Marina Silva à Presidência da República, divulgado na semana passada, pegou desprevenida a imprensa, que já contava como fato definitivo a polarização entre os prováveis candidatos dos dois blocos predominantes na política nacional – a ministra Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, José Serra.
Após um primeiro momento, em que os jornais demonstraram, apressadamente, entender que a entrada da senadora no jogo eleitoral prejudicaria essencialmente a candidata petista, começaram a surgir elementos a indicar que a coisa não é assim tão simples.
Para a imprensa, Marina ainda é um enigma amazônico.
Em primeiro lugar, torna-se evidente que a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, que deixou o cargo quando o presidente Lula da Silva colocou na sala o "bode" chamado Roberto Mangabeira Unger, não vai se acomodar ao modelo que a imprensa desenhou para ela, de defensora radical da floresta, de "ecochata" alienada da realidade econômica.
Um colunista da revista Veja, que, segundo a Folha de S.Paulo, é ligado ao governador de São Paulo, chegou a afirmar que ela representa o "preservacionismo esotérico". Essa, na verdade, é a imagem que tanto governistas como oposicionistas gostariam que o eleitorado tivesse dela.
Desenvolvimento sustentável
Mas, se confirmada sua candidatura, Marina Silva deverá aparecer para a opinião pública como uma alternativa mais consistente do que a de uma mera curiosidade amazônica, como a imprensa parece ter inicialmente julgado. A senadora acreana não é apenas uma militante do movimento ambientalista. Ela é reconhecida, há mais de uma década, como especialista em modelos sustentáveis de desenvolvimento.
Em 2001, ela foi a estrela de um seminário promovido na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, ao qual também compareceram o então ministro José Serra, o senador Christóvam Buarque, a falecida ex-primeira dama Ruth Cardoso e líderes sindicais do Brasil.
Sua eventual candidatura é a que mais se beneficia do descontentamento geral da população com os escândalos que afetam a reputação dos políticos. Se confirmar sua candidatura, Marina Silva poderá ser identificada por grande parte do eleitorado como a antítese de tudo que está aí. E a imprensa, ao insistir na agenda dos escândalos, terá ajudado a pavimentar sua caminhada para o Planalto.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 14/08/2009)