Cientistas do AC estudam efeitos nocivos da luz solar direta sobre o chão. Extinção de pequenos seres pode acabar com a fertilidade do solo
Quando uma floresta é derrubada, não são apenas as plantas e animais que desaparecem. Com o fim da sombra, pequenos seres vivos – como fungos, bactérias e minhocas – também deixam de viver ali. Isso pode comprometer a qualidade do solo, impedindo que uma nova floresta cresça ou mesmo o terreno seja utilizado para a agricultura.
No Acre, uma pesquisa começa a ser feita para medir como a falta de árvores na Amazônia pode aquecer o solo e alterar suas características. Em Rio Branco, o geólogo Roberto Matias, da Funtac (Fundação de Tecnologia do Estado do Acre) enterrou seis sensores. A metade deles está no solo exposto, a profundidades diferentes e outra metade debaixo de uma árvore.
Em três meses de pesquisa, Matias já conseguiu observar uma diferença de até 13 graus entre os dois locais de medição. “No dia 7 de agosto, às 13 horas daqui, chegamos a ter uma temperatura máxima de 39,75 graus centígrados no solo exposto, enquanto debaixo da árvore tivemos temperatura de 26,14 graus”, relata. A medição ocorreu na superfície, a dois centímetros de profundidade.
Para os próximos meses, quando a seca for maior no Acre, as temperaturas podem ser mais altas. “Acredito que em setembro e outubro tenhamos uma diferença maior. Ainda há umidade no solo, e sem umidade a temperatura vai aumentar.” Segundo o pesquisador, uma temperatura perto dos 40 graus na superfície pode prejudicar muito a qualidade da terra.
“Você não dá condições de os microorganismos se regenerarem. Essas populações entram em extinção, e não há como recuperar esse solo. Aí temos áreas de deserto.” A rápida evaporação da água e o calor irradiado para a atmosfera também são efeitos negativos causados pelo aquecimento do chão, afirma o geólogo.
A solução para evitar tudo isso, segundo o pesquisador, é recuperar áreas degradadas. No meio de 2010, quando a temperatura de um ano inteiro for medida, a Funtac pretende definir medidas para que a desertificação – que já começa a ocorrer em várias regiões da Amazônia – não atinja as terras do Acre.
(Por Iberê Thenório, Globo Amazônia, 13/08/2009)