(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
lixões contaminação do solo gestão de resíduos
2009-08-14

Foi preciso um trator esmagar a cabeça de uma criança – Carlos André Silva, 12 anos – na madrugada de quinta-feira (30/07/2009), no lixão a céu aberto de Maceió, para os setores responsáveis acordarem sob o impacto não da morte, mas da ameaça da AALONG – Associação Alagoana de ONGs – de processá-los, com a ajuda da OAB local, por omissão, prevaricação, acumpliciamento e formação de quadrilha. Os responsáveis por esses e mais outros crimes? O prefeito de Maceió, a SLUM (empresa do município que administra o lixão), a Procuradoria Regional do Trabalho, a Vara de Criança e Adolescência do Ministério Público Estadual, o Conselho Municipal da Criança e Adolescência, o Conselho Tutelar da região, a fiscalização do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).

Se a OAB tivesse agido rápido, pelo menos nos três dias seguintes ao crime, teria flagrado todos na sonolência própria dos incompetentes. Por que só quatro dias depois, na segunda-feira seguinte (03/08/2009), a Procuradoria Regional do Trabalho apresentou uma ação para multar o prefeito em R$ 1 milhão se ele ainda permitir o ingresso de crianças no lixão? Multas que ele é useiro e vezeiro em pagar. Afinal, o dinheiro não é dele, é do contribuinte.

Esse episódio nos remete a um drama que o país vive hoje em 25,93 % das suas capitais – a presença dos lixões a céu aberto. Uns em situação mais graves do que outros. Esse lixão de Maceió tem 42 anos de existência, mais de 10 anos de saturação, localiza-se praticamente no centro da cidade (entre os bairros Sítio São Jorge-Cruz das Almas), tem quase 8 km² e há 12 anos, quando entrou o Peti, foi proibida a entrada de crianças lá.

Desde que assumiu, na sua primeira gestão, o atual prefeito Cícero Almeida (PP) prometeu implantar um aterro sanitário. Foi reeleito, não implantou até hoje e relaxou na fiscalização, permitindo não só o acesso de crianças e adolescentes como a transformação do lixão num dormitório infanto-juvenil.

Daí, todas as autoridades sabiam da presença de crianças no lixão, mas fingiam desconhecer até a fatídica madrugada do esmagamento do menino – tragédia que só não foi maior, com mais mortes, porque os outros já estavam acordados refestelando-se de restos de comida.

Na verdade, hoje, o Brasil vive num lixão a céu aberto: há lixões em 72,73 % das cidades com mais de 50 mil habitantes, e em 66,67 % das cidades com menos de 50 mil habitantes, de acordo com pesquisa Água e Vida, da UNICEF (2008). Estima-se que 90 % dos cursos d’água de superfície já tenham sido contaminados pelos lixões, cujo chorume tem produzido uma verdadeira devastação nos lençóis freáticos (água subterrânea). Ou seja, a água do subsolo, considerada como reserva do futuro, já é usada abundantemente e de qualquer forma (até para lavagem de carro e calçadas) como se fosse um recurso infinito.

O Brasil produz, por ano, 29 milhões e 200 mil toneladas de resíduos sólidos por ano, e menos da metade é recolhida, a ser correto o número de que produzimos 80 mil/t/dia. Um cálculo do professor Sebetai Calderoni, Doutor em Ciências pela USP (FFLCH), e pós-graduado em Planejamento pela Universidade de Edimburgo (Grã-Bretanha), mostra que o Brasil o perde, por ano, R$ 4,6 bilhões por não reciclar seu lixo. O custo do tratamento consome entre 5% e 10 % do orçamento das prefeituras. Ao passo que a reciclagem, que funciona com a coleta seletiva e o reaproveitamento dos resíduos sólidos, como vidro, papel, papelão, alumínio e plásticos, resulta em ganhos ambientais.

Há casos flagrantes de agressão ambiental, como o de Maceió, onde o chorume do lixão substituiu um riacho – o do Ferro – e escorre direto para a praia de Cruz das Almas, onde se localiza a menos de dois quilômetros o hotel cinco estrelas Matsubara. O desleixo ambiental alagoano se estende ao Brasil praticamente de ponta a ponta.

Talvez quando a educação ambiental deixar de ser matéria transversal para ser obrigatória como matemática e português, o Brasil consiga romper esse círculo pernicioso, e respeitar o meio ambiente, a começar pela obrigatoriedade de adoção dos aterros sanitários, a única solução mundial possível para se enfrentar essa escala assombrosa de produção de lixo pelo planeta.

Enquanto isso não acontece, enquanto as crianças não aprenderem desde o jardim infantil a ter educação ambiental – e seus pais, capacitação, trabalho e renda – pelo Brasil afora ainda vamos assistir muitos Carlos serem esmagados por serem obrigados a comer restos nos lixões e adormecerem lá. Porque é nos lixões onde, de manhã, têm garantida sua alimentação com as sobras trazidas pelos caminhões da madrugada.

(Por Reinaldo Cabral*, ViaPolítica, 08/08/2009)

* Com mais este artigo, o jornalista e escritor Reinaldo Cabral inaugura sua colaboração semanal neste site, trazendo uma visão do ambiente das ONG’s onde atua - www.aalong.com.br. Seus livros podem ser encontrados em www.estantevirtual.com.br. O autor acaba de concluir o romance O vôo do gafanhoto, onde ficciona como o império das drogas se instalou no Brasil e como está levando o país à derrota. Seu e-mail é reinaldocabral@hotmail.com


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -