Cerca de 500 famílias atingidas pelas barragens do rio Madeira e pela UHE Samuel, acampadas desde ontem em Porto Velho/RO, fizeram nesta manhã (11/08) uma assembléia e uma marcha até o canteiro de obras da barragem de Santo Antônio, onde aconteceu um ato público. Eles reivindicam o direito dos atingidos, como o reassentamento e a reestruturação das comunidades, e o reconhecimento dos pescadores, indígenas e garimpeiros como atingidos por barragens, entre outros pontos. No entanto, as empresas construtoras, encabeçadas pela Odebrecht, dizem que não tem nada a declarar, pois "a empresa não deve nada aos atingidos".
“Até o presidente Lula reconhece a dívida do Estado Brasileiro com os atingidos por barragens, no entanto as empresas construtoras sequer nos reconhece como atingidos, pois isso acarretaria na diminui suas taxas de lucro”, afirmou Tânia Leite, da coordenação do acampamento.
Em discurso durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, em julho, Lula admitiu ter dívidas com o Movimento: “Esse (o MAB) é um movimento que eu pedi para o companheiro Dulci conversar e ver qual é a dívida que o Estado brasileiro tem com eles, porque certamente nós temos dívidas com eles. Durante muito tempo se construiu hidrelétricas, se prometia dar casas, e não veio as casas e não veio as terras”, reconheceu o presidente.
Os manifestantes querem uma audiência com empresas construtoras da barragem de Santo Antônio para o dia 13, quinta-feira, e para amanhã, querem uma audiência com a Eletronorte, responsável pela barragem de Samuel. A UHE de Samuel está localizada sobre o Rio Jamari, a 47km da capital do Estado, Porto Velho. Construída pela Eletronorte durante a década de 80, a barragem expulsou cerca de mil famílias de suas terras, a maioria aguarda reparação até hoje. Segundo levantamentos feitos na região, 650 famílias esperam reassentamento.
O grande questionamento do MAB nesta jornada de lutas, que também debate sobre a crise, é sobre a construção de novas barragens num período em que o consumo de energia, principalmente pelas indústrias, sofreu uma queda acentuada. Além disso, para os próximos 4 anos, estaria sobrando o equivalente à geração de Jirau e Santo Antônio juntas. “Mesmo assim as empresas continuam construindo barragens, são principalmente empresas eletro intensivas multinacionais, que declararam falência nos países centrais e se instalam em países como o Brasil que tem energia subsidiada. Além disso, querem as nossas riquezas naturais, concentradas principalmente na Amazônia”, declarou um dos coordenadores do MAB no ato desta manhã.
(MAB, 11/08/2009)