O Brasil recebeu nesta terça-feira (11/08) os primeiros lotes da matéria-prima para a produção de vacinas contra a gripe A, que deve começar em outubro. Segundo o presidente da Fundação Butantan, Isaias Raw, responsável pela produção, o processo de elaboração da vacina para gripe comum é o mesmo, e será apenas preciso adaptá-lo ao novo vírus.
Ele participou da comissão geral sobre o assunto realizada nesta terça-feira pela Câmara e avalia que o Brasil será pressionado para atender os países vizinhos, pois não há outra fábrica de vacinas contra gripe na América Latina. O Ministério da Saúde está negociando a importação de 17 milhões de doses da vacina, além do que poderá ser produzido no Butantan. "Mas não podemos descuidar de nenhuma das gripes, ou teremos aumento da mortalidade com a gripe sazonal, e o problema não será este ano, mas nos próximos anos", disse Raw.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, também participou da comissão geral e criticou o pânico criado em torno da gripe A, alegando que o ministério está agindo de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a doença mata menos que a gripe comum.
Temporão declarou que a saúde brasileira retardou ao máximo - por 80 dias - a entrada do vírus da gripe A no Brasil e que, neste segundo momento - com o vírus circulando em território nacional -, o atendimento médico-hospitalar tem recebido atenção do ministério.
Câmara
O presidente da Câmara, Michel Temer, conduziu os trabalhos e elogiou a eficiência do sistema de saúde brasileiro, principalmente o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais. Ele destacou as providências tomadas pela Câmara, como colocar álcool gel nas entradas dos edifícios para limpeza das mãos, e colocar em alerta seu serviço de saúde para detectar possíveis afetados.
Temer ressaltou que já foi acertada pelo primeiro-secretário da Câmara, Rafael Guerra (PSDB-MG), a aquisição do remédio adequado para o tratamento da nova gripe, com apoio do Ministério da Saúde. "Na Câmara circulam diariamente 20 mil pessoas, e queremos estar preparados também para atender essa população", disse.
O líder do PSDB, deputado José Anibal (SP), que propôs a comissão geral, sugeriu uma reunião dos líderes partidários para debater as ações que podem ser tomadas pela Câmara para ajudar na solução do problema. "A Câmara pode ter uma atuação pontual para ajudar a resolver as questões pendentes", disse. Para ele, a sugestão de fortalecimento do Plano Nacional de Auto-Suficiência em vacinas pode ser uma resposta importante, inclusive com ações pontuais, como isenções à importação e recursos do orçamento.
Mortes
Segundo os dados apresentados pelo ministro Temporão, o Brasil registrou 192 mortes em decorrência da nova gripe, sendo a taxa de mortalidade de 0,09 a cada grupo de 100 mil habitantes, menor que a taxa de 0,14 dos Estados Unidos. Ele, no entanto, criticou a elaboração de rankings que posicionariam o Brasil em relação a outros países no número de mortos. "Essa é uma análise bastante frágil. O número de óbitos deve ser considerado em relação à população", disse.
José Gomes Temporão lembrou ainda que 43% dos pacientes com síndrome respiratória aguda grave causada pelo vírus H1N1 apresentam pelo menos um fator de risco. Entre os pacientes com gripe comum, 39% apresentam pelo menos um fator de risco envolvido. Encaixam-se no grupo de risco portadores de doenças respiratórias, gestantes, crianças menores de cinco anos, pacientes imunodeprimidos e cardiopatas.
O ministro disse que, do total de mortes no Brasil, 28 foram de mulheres grávidas. Por outro lado, outras 107 gestantes foram curadas. "Além disso, 30% das gestantes que morreram tinham pelo menos um fator de risco adicional, como hipertensão arterial", observou Temporão.
Oferta do tratamento
O ministro também respondeu a críticas relacionadas à disponibilidade do tratamento no País. Segundo ele, até o momento, o Ministério da Saúde entregou aos estados 392.621 kits de tratamento completo. No mesmo período, o Sistema Único de Saúde (SUS) identificou 28 mil casos de todos os tipos de gripe. "É possível atender com folga a demanda."
Até o fim deste mês, o ministério receberá mais 800 mil tratamentos, que estão sendo imediatamente entregues a estados e municípios. "O medicamento é gratuito para todas as pessoas que necessitam", disse. "Avalio como irresponsável a banalização do uso do medicamento", afirmou ainda o ministro.
Medicamento alternativo
Temporão explicou por que o Brasil não está usando o outro medicamento, além do Tamiflu, no tratamento da gripe A - o zanamivir, de nome comercial Relenza. Segundo ele, na época em que os medicamentos foram comprados, o zanamivir não tinha registro no País e agora está sendo guardado de forma estratégica, caso o Tamiflu deixe de ser eficaz. Além disso, o zanamivir é "menos prático", pois deve ser aspirado oralmente.
(Por Noéli Nobre e Marcello Larcher, com edição de Regina Céli Assumpção, Agência Câmara, 11/08/2009)