A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) começaram a se movimentar em busca de uma posição oficial das empresas brasileiras a respeito das políticas de mudanças climáticas defendidas pelo país. A intenção das entidades é conseguir articular as diversas posições setoriais e centralizar os debates já existentes para negociar de forma mais eficiente com o governo federal.
Na Fiesp, o comitê de discussão sobre mudanças climáticas foi formado na semana passada e uma posição oficial deve ser apresentada até fim de setembro, em conjunto com a CNI, a tempo de conseguir influenciar a posição do governo federal na conferência de Copenhague, em dezembro. "Sabemos que há diversas iniciativas para debater o tema, mas queremos articular as posições para podermos ter um trabalho efetivo de negociação com o governo", diz Carlos Cavalcanti, diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp (Deinfra).
Segundo Cavalcanti, não é possível dizer no momento se a indústria será a favor de que o Brasil se comprometa com metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, pois as posições ainda são muito divergentes. "Precisamos estudar para termos uma clara posição dos empresários sobre o que o Brasil deve propor de políticas de mudanças climáticas. Existe um processo qualificado de movimentação do setor privado e acho que o Brasil vai chegar de forma bastante articulada na conferência de Copenhague", diz ele.
A tendência é de que as empresas pressionem o governo a assumir compromissos de redução do desmatamento, hoje maior fonte de emissão de gases de efeito estufa do Brasil. "Há indícios de que o governo deve aceitar metas de redução das emissões e acho que se isso acontecer temos muito a ganhar, pois nossa matriz energética já é limpa, o que temos que reduzir mais é o desmatamento", diz o diretor da Fiesp.
Uma das preocupações das empresas brasileiras é em relação ao projeto de lei de mudanças climáticas em votação no Senado americano, o "American Clean Energy and Security Act". Segundo o projeto, empresas americanas poderiam buscar defesas comerciais contra países que não cumprem metas de redução de carbono. Caso o Brasil não esteja comprometido com metas, isso poderia ser considerado um subsídio às empresas nacionais, deixando-as sujeitas à retaliação americana.
"É preciso acompanhar de perto esse projeto porque sua definição influencia diretamente o cenário de Copenhague", diz Diego Bonomo, diretor executivo da Brazil Industries Coalition (BIC), entidade que representa empresas e associações empresariais brasileiras em Washington. Segundo ele, o projeto de lei americano poderá afetar diretamente setores como o de petróleo, metais primários, minerais não-metálicos, papel e celulose e químico.
(Por Samantha Maia, Valor Econômico, 12/08/2009)