O Brasil vive um boom de projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que são usinas com potência entre 1 e 30 megawatts (MW) e de baixo impacto ambiental. Atualmente existem mais de 1.000 projetos de pequenas usinas em análise pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Juntas, essas usinas terão capacidade de produzir 7,5 mil MW de energia. O custo relativamente baixo de se implementar PCHs, em torno de R$ 4 milhões o MW/h, aliado ao menor tempo na expedição de licenças ambientais está atraindo a atenção de fundos de investimentos e grupos internacionais.
As pequenas usinas pode responder por até 8% da matriz energética do País nas próximas quatro décadas. "O potencial conhecido hoje das PCHs chega a 25 gigawatts (GW)e corresponde à potência de duas Itaipus", diz Geraldo Lúcio Tiago Filho, secretário executivo do Centro Nacional de Referência em PCHs (Cerpch), ligado à Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais.
Hoje existem 345 PCHs em operação, que geram 2,8 mil MW e respondem por 2,6% da energia produzida no País. Em construção, são 69, e já existem sinais de que as pequenas usinas, hoje concentradas nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, já estejam expandindo para as regiões Norte e Centro-Oeste. "Os bons potenciais no Sul e Sudeste do Brasil já estão sendo aproveitados. A expansão se dará rumo aos estados de Goiás, Mato Grosso e sul do Amazonas", diz Tiago Filho.
Estratégia
O crescimento da demanda por energia nos próximos anos, especialmente de fontes renováveis, e o esgotamento do potencial dos rios para grandes hidrelétricas está empurrando investidores para as usinas de pequeno porte. "A construção de PCHs tem se mostrado uma boa estratégia de diversificação de investimentos para grupos internacionais", diz Frederico Dieterich, sócio do escritório Azevedo Sette Advogados, que presta assessoria jurídica a projetos de PCHs.
Um exemplo é o grupo Ersa, criado em 2006 com o objetivo de investir exclusivamente em projetos de energias renováveis, especialmente PCHs e parques eólicos. O grupo é uma joint venture entre o Pátria Investimentos, a Eton Park , empresa americana de gestão de ativos, o fundo BBI FIP (administrado pelo Banco Bradesco de Investimento), a GMR Empreendimentos Energéticos e o DEG (banco de desenvolvimento que faz parte do grupo financeiro alemão KfW).
Hoje o grupo possui três PCHs em operação e nove em construção em Minas Gerais e Santa Catarina, que devem gerar 300 MW, fruto de um investimento de R$ 1,2 bilhão. E a aposta nas pequenas não deve parar por aí. "Estamos fazendo o inventário de rios que representam um potencial superior a 1.000 MW", diz André Sales, presidente do grupo Ersa.
A canadense Brookfield Energia Renovável (ex-Brascan Energia), que possui o maior leque de energia gerada a partir de PCHs - são 536 MW em operação, em 30 centrais - também prevê retomar a construção de novas PCHs. Deve iniciar a construção de uma nova central este ano e estão previstas mais quatro, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para o ano que vem.
"A crise financeira nos tornou mais cautelosos. Este ano, demos continuidade a dois projetos que já estavam iniciados. Mas vamos retomar os investimentos para 2010", diz Luiz Ricardo Renha, presidente da Brookfield Energia Renovável. A Cemig, companhia de energia de Minas Gerais, também está incentivando o aproveitamento dos rios para pequenas centrais. Lançou em 2004 o programa Minas PCH, que prevê R$ 1 bilhão em investimentos e um acréscimo de 400 MW ao sistema elétrico do estado. O potencial chega a 2,8 mil MW.
Resistência
Mas a expansão das pequenas centrais já começa a atrair opositores. Em Aiuruoca, a 420 quilômetros de Belo Horizonte, a construção de uma usina do grupo Ersa orçada em R$ 80 milhões causa polêmica. A construção demanda o desmatamento de uma área de 13 hectares de Mata Atlântica localizada dentro de uma área de proteção ambiental (APA). Os moradores temem que a construção da usina traga danos ao ecoturismo, uma das fontes de renda na região.
"É incompreensível. Vamos produzir energia limpa, que traz pouco impacto para as comunidades e gera créditos de carbono", diz Sales, da Ersa. A empresa aguarda a emissão da licença de operação do empreendimento.
(O Estado de S.Paulo / Portal PCH, 10/08/2009)