Está na Razão Social, suplemento de O Globo, do último dia 4 de agosto (pág.16), e o título da matéria é exatamente esse: Vale assume falha em comunicação. Mas qual foi essa falha? Bem, segundo Luiz Cláudio Ferreira Castro, diretor do Departamento do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Vale, o problema de comunicação ocorreu após o triste episódio de contaminação do rio Mucurupi, em Barcarena, no interior do Pará, no primeiro semestre deste ano. A comunidade reclamou muito, o que era de se esperar, porque a lama vermelha despejada pela Alunorte, controlada da Vale, emporcalhou o ambiente e penalizou os cidadãos e a Vale, ao que se sabe, não conseguiu, desta vez, evitar que esta reclamação viesse a público, inclusive com divulgação internacional.
A bronca da comunidade está no difícil acesso à empresa e , pensando bem, na desculpa esfarrapada da Alunorte que insiste em dizer (Cataguazes também usou a mesma justificativa quando vazou duas vezes seguidas, prejudicando milhares de pessoas anos atrás!) que a culpa foi da natureza porque a chuva foi superior ao esperado. A natureza foi também a desculpa do Consórcio Via Amarela para o acidente com várias vítimas no buraco do metrô em São Paulo. Ela paga sempre quando as empresas não conseguem justificar os seus erros.
A Vale sempre foi arrogante em sua comunicação e, quase sempre, confunde relacionamento com cooptação, tentando, com seu poderio econômico e seu discurso grandiloquente, jogar o problema no colo dos outros (indígenas, quilombolas, comunidade etc). Ela nunca erra, só os outros.
Ela quer nos convencer de que são os indígenas que invadem a sua propriedade, busca mascarar demissões sucessivas e assim por diante, postura típica de empresas que se sentem acima de qualquer suspeita e que confiam no seu poder para impor a sua versão. Certamente, a comunidade de Barcarena tem o que reclamar e ainda bem que um executivo da Vale assumiu (que novidade!) a falha em comunicação que, na verdade, é mesmo uma falha de gestão, de processo, de controle ambiental.
O que o Ibama tem que fazer é manter a multa de 12 milhões aplicada à empresa para que a gente não fique aqui com aquela velha impressão de que, para pessoas importantes e empresas poderosas, tudo acaba em pizza. Sujou, tem que pagar, e esse negócio de envolver Deus, natureza na história não está com nada.
Toda empresa tem que assumir os seus atos e, no mínimo, pagar quando, por incompetência, incúria, falha em gestão de riscos, compromete a qualidade de vida dos que estão ao lado de suas fábricas. E todos nós sabemos que alguns setores envolvem riscos maiores em virtude de seu potencial predador, como são as siderúrgicas, mineradoras, petrolíferas etc.
Assumir a culpa já é um bom começo, mas que a Vale não insista em dizer que a falha foi só de comunicação porque o buraco é bem mais embaixo (e a Vale entende muito de buraco, não é mesmo?). Seja integralmente humilde desta vez, poderosa Vale. Assume a culpa e pague. Mas a gente sabe que é difícil: empresas que lucram muito costumam ter dificuldade para por a mão no bolso, não é verdade? Gostam mais de extrair do que de repor mas essa é uma característica da atividade mineradora.
Parabéns para a repórter Amélia Gonzalez que fez a reportagem e ao diretor da Vale que, mesmo buscando mascarar todo o problema, assumiu pelo menos uma falha em comunicação.
Em tempo: depois de receber o prêmio Aberje de melhor empresa do ano em comunicação, a Vale demitiu um monte de colegas da área em 2009. Como se pode ver, o discurso e a prática não estão sintonizados por lá, mas os lucros continuam elevados e isso que interessa, não é verdade?
Embora nem sempre se comunique adequadamente com as comunidades, a Vale continua gastando os tubos em propaganda. Ela prefere mesmo o monólogo, mas é o direito dela: cada empresa tem um jeito particular de se comunicar com os stakeholders. Só que, como a gente pode aprender com este episódio, o diálogo costuma sempre ser a melhor alternativa.
(Por Wilson Bueno, Blog do Wilson, 07/08/2009)