Sabendo que o comportamento das pessoas contribui diretamente para o aquecimento global, estudo sugere que o conhecimento de psicólogos deve ser aproveitado para alterar antigos hábitos e tornar leis ambientais mais fáceis de serem aceitas
A cada nova pesquisa que é realizada, mais clara fica a contribuição humana para o aquecimento global. Essa responsabilidade se dá principalmente por motivos comportamentais, como o consumo de energia e o crescimento populacional. Percebendo este fato, a Associação Americana de Psicologia (APA) realizou um estudo para entender porque as pessoas estão demorando tanto para perceber que devem se engajar no combate às mudanças climáticas. A pesquisa também mostra que a psicologia deveria exercer uma função maior nessa luta. “O que é importante entender é a relevância do comportamento humano para as mudanças climáticas. Nós devemos compreender o porquê das pessoas não estarem agindo e então fazer com que elas ajam”, esclareceu uma das autoras do estudo, a pesquisadora Janet Swim, da Universidade do Estado da Pensilvânia.
O trabalho “Psychology and Global Climate Change: Addressing a Multi-faceted Phenomenon and Set of Challenges” foi divulgado nesta quinta-feira (06/08) e examina décadas de pesquisas e práticas psicológicas que foram utilizadas em áreas ligadas com as mudanças climáticas, como meio ambiente, conservação e desastres naturais. Com isso, o relatório consegue oferecer com detalhes, em suas mais de 200 páginas, a conexão entre psicologia e mudanças climáticas, sugerindo inclusive recomendações para novas políticas.
Importante, mas não urgente
A APA cita uma pesquisa do PEW Research Center na qual 75% a 80% dos entrevistados afirmam que as mudanças climáticas são um assunto importante. Porém, ao classificá-la em um ranking, a questão aparece em último numa lista com 20 itens, bem atrás de tópicos como economia ou terrorismo. Apesar dos alertas de cientistas e ambientalistas de que para minimizar os piores efeitos das mudanças climáticas as pessoas deveriam mudar imediatamente seus hábitos, o cidadão comum simplesmente não sente esse sentimento de urgência. Entre os fatores citados pelo estudo da APA para essa falta de vontade de querer agir estão: desconhecimento, desconfiança, negação, a sensação de que elas sozinhas não influem no cenário maior e pura e simplesmente a recusa para alterar antigos hábitos.
Contribuição
A APA destacou algumas maneiras de como a psicologia já está trabalhando para ultrapassar essas barreiras. A entidade reconheceu, por exemplo, que as pessoas utilizam mais aparelhos com boa eficiência energética se a economia deles for clara e imediata. Equipamentos que mostram o quanto de energia e de dinheiro estão economizando são mais procurados pelos consumidores. “Ao mostrar a informação em tempo real ou ao menos diariamente, os produtos são mais bem aceitos do que se apenas prometessem uma conta de luz menor no fim do mês”, afirmou Swim.
A pesquisa também demonstrou que só o oferecimento de incentivos financeiros para a implementação de políticas não é tão eficaz quanto a sua combinação com medidas como a atenção às conveniências para os consumidores, garantias de qualidade e fortes ações de marketing social. Um exemplo prático é citado pelo estudo. Em um programa de adoção de sistemas mais eficientes de controle de temperatura de residências (o que contribui para a redução do consumo energético), as comunidades que foram alvo dessa combinação de ações aderiram em maior quantidade, 20%, do que as que contaram apenas com incentivos financeiros.
Entre as áreas nas quais a psicologia poderia ajudar são destacadas o desenvolvimento de leis ambientais, programas de incentivos econômicos, tecnologias de eficiência energética e métodos de comunicação. “Muitas das políticas falham porque se baseiam em um único tipo de intervenção, como tecnológica, econômica ou de regulamentação. Elas poderiam ser mais bem sucedidas se os legisladores fizessem uso do conhecimento da psicologia”, conclui o estudo.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 07/08/2009)