Maior gerador privado de energia do país, com 7.490 megawatts (MW) de potência instalada e 4,4 mil MW em construção, o grupo GDF Suez está analisando o projeto de Belo Monte, a gigantesca hidrelétrica no rio Xingu que será licitada pelo governo. Mas não há qualquer decisão ainda sobre uma possível participação no projeto, que ainda não tem data para ser licitado. Quem explica é o presidente da GDF Suez Energy Internacional, Dirk Beeuwsaert, que esteve na semana passada no Brasil onde visitou o canteiro de obras da hidrelétrica Jirau, no rio Madeira.
"Estamos fazendo estudos sobre o projeto (de Belo Monte). Para tomar uma decisão de investimentos dessa ordem é preciso saber quanto tempo demora para ser feito, quanto vai custar, com que equipamentos. A própria competição entre fornecedores de equipamentos e os construtores é um ponto importante porque sem isso fica difícil ter o produto final, que é um preço competitivo", afirma Beeuwsaert, frisando que isso não significa que o grupo não tem interesse, mas que é muito cedo para tomar decisões.
O presidente do grupo no Brasil, Mauricio Bähr, diz que algumas dúvidas ainda "afligem" investidores, entre elas o desconhecimento do projeto que será oferecido e se haverá energia direcionada, ou não, para os consumidores livres, que não precisam ter contrato com as distribuidoras podendo comprar diretamente dos geradores.
A questão tem relevância no momento em que Jirau tem 30% de sua energia destinada ao mercado livre ainda sem contrato de venda. E a usina de Santo Antonio (do consórcio Odebrecht, Cemig, Furnas, Andrade Gutierrez e um fundo de investimentos) só vendeu a energia durante a fase de antecipação da obra, mesmo assim para a Cemig. A preocupação de Bähr é com uma superoferta , que resulte em redução dos preços.
"O mercado livre já é bastante assediado e existe a necessidade de alocação de energia de Santo Antonio e Jirau. Hoje nós faturamos e vendemos energia para o mercado livre e se houver mais energia para esse mercado, que tem um tamanho definido pelos grandes consumidores e não é tão grande assim, isso pode ser um problema", explica Bähr.
Não por acaso, o acordo entre o Brasil e o Paraguai para venda de metade da energia da hidrelétrica Itaipu no mercado livre brasileiro é considerado "preocupante" pela GDF Suez. Bähr lembra que a base do modelo vigente no país considerava toda a energia de Itaipu (tanto a parte brasileira como a paraguaia vendida no país) destinada aos consumidores cativos da distribuidoras. Por isso Bähr acha que o governo deveria considerar a possibilidade de destinar a energia dos paraguaios para o mercado cativo e não o livre.
Ao fazer uma avaliação sobre a retomada da economia mundial, Beeuwsaert observa que já é possível ver alguns sinais de melhora ponderando contudo que a recuperação não depende só dos países injetarem dinheiro, mas também das pessoas deixarem o pessimismo de lado. "Temos que ser mais otimistas."
Bähr disse que no Brasil a recuperação já começou, tanto é que na última reunião do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) os grandes consumidores industriais afirmaram que havia "passado o fundo do poço" e que a recuperação já teria começado, diz Bähr. Na Tractebel Energia, a geradora controlada pelo grupo, isso é um fato. As vendas de energia cresceram 1,3% no segundo trimestre (para 3.473 MW médios) na comparação com o mesmo período do ano passado e 1,7% quando comparado semestre contra semestre.
A empresa divulgou na sexta-feira lucro líquido de R$ 263,3 milhões no segundo trimestre, 20% acima do resultado obtido no mesmo período do ano passado. A receita operacional líquida foi de R$ 835,6 milhões no trimestre, 8,1% acima do mesmo período de 2008. A GDF Suez também gostaria de investir em geração de energia nuclear no país e espera ter essa oportunidade no futuro. A construção e operação de usinas nucleares são monopólio da União.
(Por Cláudia Schüffner, Valor Econômico, 10/08/2009)