Cientistas norte-americanos alertam para o crescimento do consumo de água na produção do biocombustível, causado principalmente pelo aumento do cultivo de milho em áreas que exigem maior irrigação
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (5) mostra que a pegada hídrica do etanol de milho produzido nos EUA é três vezes maior do que se pensava, pois estatísticas anteriores não contabilizavam uma vasta variedade de práticas de irrigação nos EUA. Segundo Yi-Wen Chiu, Brian Walseth e Sangwon Suh, pesquisadores da Universidade de Minnesota, a produção de um litro de etanol pode consumir até 2.138 litros de água, dependendo da prática de irrigação da região na qual o milho foi cultivado. Estudos anteriores estimavam que um litro de etanol precisava de 263 a 784 litros de água.
E é justamente a grande diferença entre as regiões que os cientistas dizem que precisam ser levadas em consideração para garantir que a expansão da produção planejada pelo país não comprometa o suprimento de água. O Ato de Segurança e Independência Energética dos Estados Unidos prevê a produção de 57 bilhões de litros de etanol em 2015, um aumento de cerca de 65% em relação aos números atuais.
Apesar da média nacional da pegada hídrica do etanol de milho ser de 142 litros, o consumo de água em todo o processo de produção varia de 5 litros, em Ohio, até 2.138 litros, na Califórnia. As práticas de irrigação nos EUA variam muito devido a grandes diferenças nos padrões de chuvas, temperaturas e condições climáticas. “A média nacional de água irrigada é irrelevante para entender as implicações da água no etanol, e a discussão deveria levar em conta as variações regionais interpretadas com base local”, alertam os pesquisadores no artigo publicado no periódico científico Environmental Science & Technology
A indústria do etanol consumiu de 13% a 17% da produção de milho entre 2005 e 2007 nos EUA. Segundo estimativas do Departamento de Agricultura, 28% da colheita de milho total foi usada para produzir 34 bilhões de litros de etanol em 2008. Dos 15 bilhões de litros produzidos em 2005, 4 bilhões (28%) tiveram um consumo maior do que 100 litros de água para cada litro de etanol produzido. Dos 17 bilhões de litros adicionados a produção entre 2006 a 2008, 8 bilhões (43%) consumiram mais de 100 litros de água por litro de etanol produzido.
De 2005 a 2008, o consumo de água para a produção de etanol nos EUA cresceu 246%, de 1,9 para 6,1 trilhões de litros, enquanto que a produção do biocombustível aumentou 133%, de 15 para 34 bilhões de litro durante o mesmo período. Esta expansão da indústria para áreas que precisam de mais irrigação preocupa os cientistas. “Apesar das medidas de conservação de água atuais estarem focadas nas biorefinarias, nossos resultados indicam que a conservação de água pode ser mais efetiva na redução de irrigação. A curto prazo, os locais para instalação de biorefinarias deve ser aqueles onde a expansão do cultivo de milho para produção de etanol não seja feita em áreas que dependam de irrigação extensiva.”
Segundo os pesquisadores, se os três estados com menor pegada hídrica expandirem a produção para alcançar a meta do governo para 2015, o consumo de água será de 61 bilhões de litros, enquanto que se esta expansão for feita nos sete estados com as pegadas hídricas mais altas, o volume de água necessário é 2,5 trilhões de litros. Finalmente, o estudo chama a atenção para as previsões de falta de água na próxima década feita pelo governo em 2003 para 36 dos 47 estados do país. Os estados do Colorado, Wyoming, Kansas, Oklahoma, Califórnia e Novo México possuem uma pegada hídrica elevada e, coincidentemente, também devem enfrentar escassez de água. “A continuidade da expansão da produção de milho nestas regiões tende a agravar a expectativa de falta de água”, alertam.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 06/08/2009)