Pela primeira vez, a senadora Marina Silva (PT-AC) admitiu a possibilidade de deixar o PT, partido no qual milita há 30 anos. O convite de filiação ao PV, formalizado pelo partido semana passada, está sendo analisado por ela. A decisão não está tomada, mas será anunciada em breve, garante Marina. O PV quer ter Marina como candidata a presidente da República, ano que vem, numa disputa que pode complicar a candidatura da ministra Dilma Rousseff, que tem o apoio do PT e do presidente Lula. Ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, Marina afirma que não serão questões eleitorais que nortearão sua decisão.
O Globo - Como recebeu o convite do PV?
Marina Silva - A Executiva veio a Brasília, fez o convite dentro da atualização programática, à luz do desafio do desenvolvimento sustentável. Obviamente ouvi mais do que falei. Ninguém tinha a expectativa de que eu pudesse dar uma resposta de imediato. Tenho 30 anos no PT, minha filha mais velha tem 28 anos; antes de ser mãe eu já era do PT. Falei que iria pensar, conversar com pessoas, a começar pelos meus companheiros do Acre, e é o que estou fazendo. Estou avaliando à luz dos desafios que são os mais importantes para o Brasil, dentro da perspectiva do que sempre acreditei e defendi na minha vida.
O convite balançou a senhora?
Marina - Não é questão de balançar ou não. Aos 51 anos, você tem que pensar naquilo que é a contribuição que pode estar deixando. É isso que me mobiliza. Não sou política profissional, não faço cálculos. No Senado é a forma que tenho de continuar com as causas em que acredito.
Não teria espaço para isso dentro do PT?
Marina - A questão de desenvolvimento sustentável é um desafio enfrentado por todos os países e economias. Lamentavelmente, ao longo desses anos todos, os partidos políticos não levaram isso como algo estratégico. Não é algo que não está em apenas um partido, não está em nenhum. Não se trata de crítica (ao PT). No Brasil já avançamos no marco regulatório, temos que colocar em prática.
A defesa do presidente Sarney pelo governo Lula pode influenciar sua decisão?
Marina - Não. Estou fazendo uma reflexão do que penso para o mundo e para o país. Envolve algo de natureza maior, ainda que as questões ligadas à conjuntura e que se traduzem na crise do Senado têm levado a questionamentos. Nesse caso, a bancada tem uma posição e as disputas feitas são legítimas. A bancada tem sido muito acolhedora comigo, tanto no caso da MP 458 (regularização fundiária) e agora em relação ao afastamento do presidente Sarney.
O PV diz ter pesquisa em que a senhora aparece com 12% das intenções de voto para presidente da República. Isso pesa na decisão? Será candidata?
Marina - Não estou condicionando minha reflexão a questões de pesquisa, em absoluto. É uma reflexão com uma visão de país, de mundo.
Com quem a senhora conversou depois do convite?
Marina - Liguei para o (Aloizio) Mercadante, para comunicar o convite. Ficamos de conversar. Falei com o (Eduardo) Suplicy, com o Binho (Marques, governador do Acre), com o Jorge Viana. Tenho nos companheiros uma trajetória de vida.
(Por Isabel Braga, O Globo / IHUnisinos, 05/08/2009)