O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que não existem razões para que a senadora Marina Silva (PT-AC) deixe o partido para filiar-se ao Partido Verde (PV). Marina vem sendo assediada pelo PV, que com ela já manteve uma reunião de quatro horas para analisar resultados de uma pesquisa apontando a senadora com 10% a 14% de intenção de voto para presidente da República em 2010, em diferentes cenários.
Berzoini disse não ter conversado ainda com a senadora, mas que ela é muito importante para a história do partido. "Ela é fundadora do PT, um símbolo nas lutas ao lado de Chico Mendes", recordou. Para Berzoini, Marina é importante não apenas para o PT, mas para o Acre. "Ela foi fundamental para que o Acre deixasse de ser dominado pelo crime organizado e passasse a ser um Estado onde a democracia virou uma regra", elogiou o presidente petista, numa demonstração de que a eventual candidatura da senadora à Presidência preocupa o partido. "Espero que ela reflita sobre isso antes de tomar uma decisão".
O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), considera natural que o PV queira articular uma aliança com os aliados, mas acha pouco factível que Marina aceite deixar o partido para rumar em uma candidatura presidencial por outra legenda. "Ela precisará examinar sua consciência e pesar bem antes de tomar uma decisão como esta".
Marina desgastou-se muito durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente, comprando brigas com vários companheiros de Esplanada, incluindo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes e a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, para quem perdeu todas as batalhas. Para Vaccarezza, contudo, Marina não pode alegar decepção com o governo para tomar alguma decisão. "Ela ficou seis dos oito anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É co-responsável por qualquer decisão tomada ao longo deste tempo".
Para o líder do PT na Câmara, a decepção poderia ser um argumento se ela tivesse ficado um, dois, três meses no cargo. "Mas ela ficou 75% do mandato do presidente Lula", frisou o deputado. Berzoini foi bem mais polido, afirmando ser natural a divergência interna. "Eu fui companheiro de Ministério de Marina. Sei que ela vai ponderar isto no momento oportuno".
Sobre possíveis divergências partidárias - há quem alegue que Marina disputa espaço político estadual com os irmãos Jorge e Tião Viana, respectivamente ex-governador e atual senador acreanos pelo PT -, Berzoini afirmou que os embates internos são uma característica marcante no partido. "Sabemos que esta é uma realidade em qualquer legenda. O PT tem o costume de expor mais estas divergências, mas não vejo nada que justifique um pedido de desfiliação de Marina".
A senadora não se manifestou sobre o assunto. Ela viajou a São Paulo para participar da abertura do Congresso da CUT. Por intermédio da assessoria, contudo, veio apenas a confirmação do encontro com a Executiva Nacional do PV, na quarta-feira passada e a informação de que ela "avalia convite feito pelo partido aliado". Não existe definição de quando a senadora acreana responderá, mas, pelo cronograma eleitoral, se ela quiser mudar de legenda para disputar em 2010 terá que fazê-lo até o início de outubro.
(Por Paulo de Tarso Lyra, Valor Econômico, 05/08/2009)